sexta-feira, 1 de março de 2019

JESUS CAI PELA TERCEIRA VEZ

VIA-SACRA
NO COLISEU


SEXTA-FEIRA SANTA
DO ANO 2005


MEDITAÇÕES E ORAÇÕES
DO CARDEAL JOSEPH RATZINGER  



NONA ESTAÇÃO
Jesus cai pela terceira vez
 


"E que dizer da terceira queda de Jesus sob o peso da cruz? Pode talvez fazer-nos pensar na queda do homem em geral, no afastamento de muitos de Cristo, caminhando à deriva para um secularismo sem Deus. Mas não deveríamos pensar também em tudo quanto Cristo tem sofrido na sua própria Igreja? Quantas vezes se abusa do Santíssimo Sacramento da sua presença, frequentemente como está vazio e ruim o coração onde Ele entra! Tantas vezes celebramos apenas nós próprios, sem nos darmos conta sequer d’Ele! Quantas vezes se contorce e abusa da sua Palavra! Quão pouca fé existe em tantas teorias, quantas palavras vazias! Quanta sujeira há na Igreja, e precisamente entre aqueles que, no sacerdócio, deveriam pertencer completamente a Ele! Quanta soberba, quanta auto-suficiência! Respeitamos tão pouco o sacramento da reconciliação, onde Ele está à nossa espera para nos levantar das nossas quedas! Tudo isto está presente na sua paixão. A traição dos discípulos, a recepção indigna do seu Corpo e do seu Sangue é certamente o maior sofrimento do Redentor, o que Lhe trespassa o coração. Nada mais podemos fazer que dirigir-Lhe, do mais fundo da alma, este grito: Kyrie, eleison – Senhor, salvai-nos (cf. Mt 8, 25)". 



ORAÇÃO
Senhor, muitas vezes a vossa Igreja parece-nos uma barca que está para afundar, uma barca que mete água por todos os lados. E mesmo no vosso campo de trigo, vemos mais cizânia que trigo. O vestido e o rosto tão sujos da vossa Igreja horrorizam-nos. Mas somos nós mesmos que os sujamos! Somos nós mesmos que Vos traímos sempre, depois de todas as nossas grandes palavras, os nossos grandes gestos. Tende piedade da vossa Igreja: também dentro dela, Adão continua a cair. Com a nossa queda, deitamo-Vos ao chão, e Satanás a rir-se porque espera que não mais conseguireis levantar-Vos daquela queda; espera que Vós, tendo sido arrastado na queda da vossa Igreja, ficareis por terra derrotado. Mas, Vós erguer-Vos-eis. Vós levantastes-Vos, ressuscitastes e podeis levantar-nos também a nós. Salvai e santificai a vossa Igreja. Salvai e santificai a todos nós.

© Copyright 2005 - Libreria Editrice Vaticana   

terça-feira, 26 de fevereiro de 2019

QUAL JEJUM DEVEMOS PRATICAR NA QUARESMA?


A Quaresma se aproxima e iniciaremos as práticas comuns a este tempo litúrgico: jejum, esmola e oração. A respeito do jejum temos um relato do Pastor de Hermas:

"Eis como observarás o jejum que queres praticar: Antes de tudo, guarda-te de toda palavra má, de todo desejo mau, e purifica teu coração de todas as coisas vãs deste mundo. Se observares isso, teu jejum será perfeito. E jejuarás do seguinte modo: depois de cumprir o que foi escrito, no dia em que jejuares, não tomarás nada, a não ser pão e água. Calcularás o preço dos alimentos que poderias comer nesse dia e o porás à parte para dar a uma viúva, a um órfão ou necessitado e, desse modo, te tornarás humilde. Graças a essa humildade, quem tiver recebido ficarás saciado e rogará ao Senhor por ti. Se jejuares como te ordenei, teu sacrifício será aceito por Deus, teu jejum será anotado, e o serviço, assim realizado, será bom, alegre e bem acolhido pelo Senhor. Observarás isso com teus filhos e toda a tua família. Desse modo, serás feliz, e todos os que ouvirem esses preceitos e os observarem, serão felizes e receberão do Senhor as coisas que pedirem". 
  
O Pastor de Hermas - Quinta parábola

sábado, 23 de fevereiro de 2019

CURIOSIDADES PATRÍSTICAS I - Martírio de São Policarpo


Provavelmente você já leu ou escutou alguma coisa relacionada aos mártires da Igreja. Ao longo de uma história com mais de dois mil anos muitos já ganharam este título, como atesta o Cânon Romano (Oração Eucarística I): 

"E a todos nós, pecadores, que confiamos na vossa imensa misericórdia, concedei, não por nossos méritos, mas por vossa bondade, o convívio dos apóstolos e mártires: João Batista e Estevão, Matias e Barnabé, (Inácio, Alexandre, Marcelino e Pedro, Felicidade e Perpétua, Águeda e Luzia, Inês, Cecília, Anastácia) e todos os vossos santos". 

Mas qual o primeiro texto que utiliza a expressão "mártir" referindo-se aqueles que deram à vida em defesa da fé? 
A resposta pode ser encontrada na carta da Igreja de Esmirna enviada à Igreja de Filomélio (séc. II), descrevendo o martírio de Policarpo. Temos nesta carta o primeiro texto cristão descrevendo um martírio, sendo também o primeiro que utiliza o termo "mártir" para descrever um cristão que é morto por causa da fé. 

Alguns trechos da carta: 

CAPÍTULO I
1. Irmãos, nós vos escrevemos a respeito dos mártires e do bem-aventurado Policarpo...
CAPÍTULO IX
1. Quando Policarpo entrou no estádio, veio do céu uma voz, dizendo: “Sê forte, Policarpo! Sê homem!” Ninguém viu quem tinha falado, mas alguns dos nossos que estavam presentes ouviram a voz.
3. O chefe da polícia insistia: “Jura, e eu te liberto. Amaldiçoa o Cristo!” Policarpo respondeu: “Eu o sirvo há oitenta e seis anos, e ele não me fez nenhum mal. Como poderia blasfemar o meu rei que me salvou?”
CAPÍTULO XII
2 A essas palavras do arauto, toda a multidão de pagão e judeus moradores de Esmirna, com furor incontido, começou a gritar: “Eis o mestre da Ásia, o pai dos cristãos, o destruidor de nosso deuses! É ele que ensina muita gente a não sacrificar e a não adorar.” Dizendo isso, gritavam e pediam aos asiarca Filipe que lançasse um leão contra Policarpo. 
CAPÍTULO XV
1. Quando ele ergueu o seu Amém e terminou sua oração, os homens da pira acenderam o fogo. Grande chama brilhou e nós vimos o prodígio, nós a quem foi dado ver e que fomos preservados para anunciar estes acontecimentos a outros.
2. O fogo fez uma espécie de abóbada, como vela de navio inflada pelo vento, e envolveu como parede o corpo do mártir. Ele estava no meio, não como carne que queima, mas como pão que assa, como ouro ou prata brilhando na fornalha. Sentimos então um perfume semelhante a baforada de incenso ou outro aroma parecido.
CAPÍTULO XVI
1. Por fim, vendo que o fogo não podia consumir o seu corpo, os ímpios ordenaram ao carrasco que fosse dar o golpe de misericórdia com o punhal. Feito isso, jorrou tanto sangue que apagou o fogo. Toda a multidão admirou-se de ver tão grande diferença entre os incrédulos e os eleitos.
2. Entre estes, o admirável mártir Policarpo, que foi, em nosso dias, mestre apostólico e profético, o bispo da Igreja católica de Esmirna. Toda palavra que saiu de sua boca se cumpriu e se cumprirá.
CAPÍTULO XXI
1. O bem-aventurado Policarpo deu testemunho no início do mês Xântico, no décimo segundo dia, o sétimo dia antes das calendas de março*, dia do grande sábado, na oitava hora. Ele fora preso por Herodes, sob o pontificado de Filipe de Trália e do proconsulado de Estácio Quadrato, mas sob o reino eterno de nosso Senhor Jesus Cristo, a quem seja dada a glória, a honra, a grandeza, o trono eterno de geração em geração Amém.
* 23 de fevereiro.