segunda-feira, 6 de março de 2017

CRISTO

A pergunta pode ser feita dentro de um sentido plenamente cristão: o Filho de Deus fez-se homem para agir ou para morrer? Vários Padres da Igreja - como Tertuliano, Gregório de Nissa e Leão Magno - responderam sem hesitação: ele nasceu para poder morrer. 
Enquanto ele agiu, ao longo de sua vida, sua obra foi um fracasso, e quanto mais amorosamente se arriscou, mais claramente foi rejeitado. Qual a razão disso? A resposta poderia ser resumida em uma frase: toda a sua ação terrena se deu, desde o princípio, na plena autoentrega a seu Pai celestial, e esse autoentrega encontrou o seu ponto culminante e, com isso, também a sua plena realização, na Cruz. 
Essa resposta soa enigmática em sua brevidade, e, de fato, para compreendê-la plenamente, falta-nos um conceito. Jesus afirma que não veio para fazer a Sua vontade, mas a vontade daquele que o enviou. Esse seria o seu alimento. O conceito que nos falta é aquele da Missão. Com ele, conseguimos vislumbrar, de longe, a unidade que procuramos.:
Porque Jesus, o Filho de Deus, está aqui apenas para cumprir, em sua obra e seu amor, uma missão de Deus. Ele levará essa missão tão a sério quanto possível; não se pode falar, aqui, de um distanciamento interior da missão. 
Porque Jesus sempre identificou todo o seu "eu" com sua missão, ele também se abandonou à vontade do Pai. Ele não pode retroceder para uma esfera anterior à sua missão para encontrar o seu "ego", para encontrar-se a si mesmo. 
Mas em que consiste a missão? Consiste nisso, que ele reconcilie o mundo afastado de Deus - por meio de seu amor que chega ao mais extremo dos extremos - com o seu Criador, o que só será possível pelo fato de ele tomar sobre si todo esse sofrimento, suportando-o (como que através de um eclipse de Deus) até o fim, e com efeito, até além do seu fim, pois sua obediência amorosa é, de fato, mais profunda e definitiva do que toda a rebelião do pecado consegue ser. 

BALTHAZAR. Hans Urs von. Vida a partir da Morte. Meditações sobre o mistério pascal. São Paulo: Paulus. 2016. 

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