Ocorre-me uma palavra de Pio XII que cito de memória: "tenho medo do cansaço dos bons". O grande Papa que ainda sabia que "viver é lutar" e que a vida vivida na sequela de Cristo é um combate, um bom e árduo combate, "uma guerra sem tréguas contra três cruéis inimigos: o mundo, o demônio e o amor-próprio", se ainda hoje vivesse e reinasse, certamente repetiria seu grito de alarme em vários tons e com maior severidade: "o que mais temo não é só o cansaço dos católicos conscientes, é a moleza, é a pusilanimidade, é a tolerância ditada pela covardia, erigida em sistema e vista como a maior virtude do novo humanismo".
Aos católicos que ainda não se transmutaram, e que não esqueceram a língua de Deus, não precisaria citar I Mac III, 59. Cito a conhecida passagem pelo amoroso gosto de escrever com meus garranchos e meu resto de vida estas belas palavras do Livro Santo: "Para nós é melhor morrer na guerra do que ver o mal de nossa gente e das coisas santas". Dos Macabeus ao apóstolo Paulo, que se alegrava de ter combatido o bom combate, vê-se a inflexível direção da História Sagrada que ganha nova dimensão na Encarnação de Cristo e culmina na Cruz e só terminará, não no dia de um Congresso Ecumênico que festejasse la réussite de l´homme, mas, ao contrário, na espantosa e terrível separação que desde já, no temor e tremor, nos lembra que o seu critério é o da sujeição à vontade de Deus, e não o da fraternidade de irmãos de pai desconhecido.
É claro que a luta a que nos referimos, quando dizemos que viver é lutar, é mais espiritual do que temporal. O apóstolo Paulo diz: "Porque nós não temos que lutar somente contra a carne e o sangue, mas sim contra os principados e potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra os espíritos malignos espalhados pelos ares". Por isso tornamos a dizer o que dias atrás já dissemos e que, nos frutuosos tempos de quaresma, convém repetir: a melhor luta que devemos travar para o bem de nossos irmãos e para o agrado de Deus é a de nossa santificação pessoal que nos obriga a colocar a defesa das coisas santas acima de todos os problemas temporais. Sim: a luta pela santificação é o meu primeiro dever em relação a Deus e ao próximo.
CORÇÃO, Gustavo. Uma teologia da história. Niterói: Permanência. 2015

Nenhum comentário:
Postar um comentário