terça-feira, 7 de março de 2017

Limitações e liberdade do ser humano

É com a tentação de Israel em mente que a Sagrada Escritura retrata a tentação de Adão e, em geral, a natureza da tentação e do pecado em qualquer idade. A tentação não começa com a negação de Deus e com a queda direta num ateísmo. A serpente não nega Deus, aparentemente: começa antes com um pedido perfeitamente razoável de informação que, na realidade, contém uma insinuação provocadora do ser humano e o atrai da confiança à desconfiança: "É verdade ter-vos Deus proibido de comer o fruto de alguma árvore do jardim?" (Gn 3,1). A primeira coisa não é a negação de Deus, mas a dúvida acerca da sua aliança, acerca da comunidade de fé e oração, dos mandamentos, de tudo quanto é contexto para viver a aliança de Deus. Existe, de fato, uma grande iluminação quando se duvida da aliança, se experimenta a desconfiança, se exige liberdade e se renuncia a obedecer à aliança como se ela fosse um colete de forças que impede o gozo das reais promessas da vida. É tão fácil convencer as pessoas de que essa aliança não é um dom, mas antes uma expressão de inveja relativamente à humanidade, que rouba aos seres humanos a liberdade, bem como as coisas mais preciosas da vida. Com esta dúvida, as pessoas ficam no bom caminho para construírem os seus mundos. Por outas palavras, é então que tomam a decisão de não aceitar as limitações da sua existência; é então que decidem não se deixar amarrar pelas limitações impostas pelo bem e pelo mal, ou pela moralidade em geral, mas, muito simplesmente, se libertam a sia mesmo mas ignorando-as.

RATZINGER, Joseph. No princípio Deus criou o céu e a terra. Portugal: Principia. 2013

Nenhum comentário:

Postar um comentário