A cena muda, mas as divisões persistem. Todavia, o contexto em que a Igreja atua é um mundo já pagão...
Joseph Ratzinger - Sem dúvida, a descristianização chegou a níveis que não conseguiríamos imaginar na época do encerramento do Concílio. Basta pensar que na ex-Alemanha comunista pouco menos de 1% da população se batiza. Assistimos a um progresso incrível do paganismo, e o cristianismo, que ainda parecia presente há trinta anos, desaparece da vida e da consciência pública. Assim, temos que nos confrontar com um pós-cristianismo muito forte não só no Ocidente mas também no Oriente. Basta pensar na Rússia, onde encontramos a mesma situação: existe um núcleo de fiéis, mas a grande maioria quase não é tocada pelo Evangelho. Por isso, nasce uma exigência de uma real nova evangelização, que se dirija a essas pessoas distantes do cristianismo, embebidas de secularismo, que devem ser aproximadas da realidade divina. Essa é a grande missão para os próximos anos.
Hoje, todas falam de nova evangelização, mas ela pode se tornar uma palavra de ordem. O que significa evangelizar? Como pode acontecer a fé para o homem de hoje?
Joseph Ratzinger: Creio que as testemunhas são a primeira condição para essa evangelização. Pessoas que, vivendo a fé e verificando-a na sua vida, mostrem com clareza que a fé faz viver e possibilita uma vida autenticamente humana na comunhão e na comunidade. Só assim o conteúdo da mensagem torna-se compreensível. Por isso, precisamos de núcleos de cristãos onde essa verificação da fé na vida - pessoal e comunitária - se realize e ofereça a todos uma experiência cujas raízes vale a pena conhecer.
RATZINGER, Joseph (Bento XVI). Ser cristão na era neopagã - vol.3: entrevistas (1986-2003) / Cardeal Ratzinger; organização, apresentação e notas de Rudy Albino de Assunção - Campinas, SP: Ecclesiae, 2016.

Nenhum comentário:
Postar um comentário