domingo, 19 de fevereiro de 2017

A importância da experiência salvífica

Portanto, dado central de nossa fé é o fato de que Deus interveio em nossa história por seu Filho Jesus Cristo, constituindo esta iniciativa absolutamente livre de Deus uma interpelação para nós. Acolhendo-a, deixando que polarize, hierarquize e estruture todas as dimensões de nossa pessoa, respondemos ao gesto gratuito de Deus, assumimos o sentido último de nossa existência, dispomos de uma referência para nosso agir, concebemos nossa história como um projeto a ser realizado, em suma, vivemos como cristãos. 
Esse acolhimento nos atinge profundamente porque afeta o âmbito mais central de nossa pessoa, como seres dotados de razão e liberdade, que não se satisfazem em vegetar ao longo da vida, apenas distraídos e entretidos por problemas cotidianos e por preocupações superficiais. Atingido-nos profundamente, esse envolvimento com o convite divino torna-se uma experiência totalizante, que ilumina e estrutura a multiplicidade de experiências que constituem nossa história pessoal. 
Naturalmente nessa experiência, feita igualmente pelos primeiros cristãos, encontra-se implicada toda a riqueza da fé cristã: a pessoa de Jesus Cristo, a imagem de Deus que nos revelou, sua concepção do ser humano, da sociedade e da história, suas referências éticas, sua visão do além, sua resposta ao angustiado anseio de homens e mulheres por felicidade e imortalidade. Nada mais natural que, no curso dos anos, a reflexão cristã fosse explicitando esse conjunto de elementos da fé cristã, tratando-os separadamente, a exemplo do espectro solar refletindo os componentes de um raio de luz. Desse modo, ganhou um tratamento particular na história da teologia cristã a compreensão da salvação oferecida por Deus em Jesus Cristo, construindo a atual doutrina da salvação ou soteriologia. 

MIRANDA. Mario de França*. A Salvação de Jesus Cristo. A doutrina da graça. São Paulo: Loyola. 2011. 

Padre França recebeu o Prêmio Ratzinger de Teologia, instituído em 2011, em cerimônia realizada no Vaticano, na conclusão do Simpósio “Deus caritas est. Porta da Misericórdia”, que marcou as comemorações dos 10 anos da publicação da primeira encíclica de Bento XVI, Deus caritas est.
Esse prêmio é atribuído, anualmente, a dois estudiosos que se distinguiram na pesquisa científica de caráter teológico, que difundem o pensamento da Igreja e conhecem o pensamento do teólogo José Ratzinger.

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