Não é de surpreender que, para atingir um fim sobrenatural, deva-se empregar alguns pressupostos de ordem puramente psicológica e natural. Não porque o natural possa por si mesmo produzir algum efeito sobrenatural - heresia pelagiana condenada expressamente pela Igreja - mas porque o sobrenatural pode encontrar em seu desenvolvimento algum obstáculo adiante. Ou seja, o natural atua unicamente removendo os obstáculos que impedem e dificultam o caminho ("ut removens prohibens" com dizem os teólogos) e não porque possa produzir, por si mesmo, qualquer efeito sobrenatural. Não esqueçamos, ademais, que a graça não destrói a natureza, mas a eleva e aperfeiçoa, colocando-a a seu serviço.
O principal obstáculo de ordem natural que é necessário remover para seguir adiante é, sem sombra de dúvida, a falta de energia de caráter. Vamos examiná-lo cuidadosamente.
São legião as almas incapazes de tomar uma resolução enérgica para resolver algum problema difícil que se lhes coloca adiante. Não se excitam nunca ou o fazem muito debilmente. Por causa de sua calma e lentidão, perdem uma multidão de boas ocasiões que, bem aproveitadas, poderiam levá-las ao êxito. Em algumas circunstâncias extremas, se sacrificam até onde for preciso; mas, no geral, lhes falta entusiamo e espontaneidade, porque sua natureza é muito indolente e muito débil. Santa Teresa disse delas com muito acerto: "As penitências que fazem estas almas são tão reguladas quanto sua vida... Não tenhais medo que se matem, porque a sua razão está muito em si". Onde falta, vontade enérgica não há homem perfeito. Para sê-lo, não basta um indolente queria, é preciso chegar a um enérgico quero.
MARÍN, Antonio Royo. Ser ou não ser santo...eis a questão: Compêndio da obra: Teología de la perfección cristiana. São Paulo: Ecclesiae, 2016.

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