Difundiu-se hoje em toda parte, inclusive em altos níveis eclesiásticos, a ideia que uma pessoa é mais cristã quando está envolvida em muitas atividades eclesiais. Incentiva-se uma espécie de terapia eclesiástica da atividade e do esforço. Procuram colocar todos em uma comissão ou pelo menos alguma função da Igreja. Deve sempre haver uma atividade eclesial, deve-se sempre falar da Igreja ou fazer alguma coisa por ela ou nela. Mas um espelho que reflete só a si mesmo não é mais um espelho; uma janela que em vez de permitir um olhar livre para o horizonte se coloca como obstáculo entre o observador e o mundo não tem sentido.
Uma pessoa pode exercer ininterruptamente atividades nas associações eclesiais e não ser um cristão. Pode acontecer que outra pessoa viva simplesmente da Palavra e do Sacramento e pratique o amor que vem da fé em jamais ter participado de comissões eclesiásticas, sem ter se envolvido com as novidades da política eclesiástica, sem ter participado de sínodos e sem ter votado neles, e é um verdadeiro cristão. Nós não precisamos de uma Igreja mais humana; precisamos de uma Igreja mais divina. Só assim ela será também verdadeiramente humana. Por isso, tudo o que é feito pelo homem dentro da Igreja deve ser considerado puramente como serviço e se retirar diante daquilo que é essencial.
RATZINGER, Joseph (Bento XVI). Ser cristão na era neopagã - vol. 1: Discursos e Homilias (1986-1999) / Cardeal Ratzinger (Bento XVI). Organização, apresentação e notas de Rudy Albino de Assunção. Campinas: Ecclesiae, 2014.

Perfeito! De minha parte, acho que de tão acertado, coerente e claro, nem é preciso comentar.
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