Tecnicamente falando, o homem é um animal racional. Tem em comum com os animais irracionais a capacidade sensitiva e o apetite dos sentidos, e, ao mesmo tempo, tem em comum com os anjos a inteligência e a vontade.
Em estado de graça, torna-se participante da natureza divina e é enriquecido com o poder de conhecer e amar a Deus pela fé, esperança e caridade. Todo o seu conhecimento natural depende do trabalho dos seus cinco sentidos externos. Tem, no entanto, sentidos internos, dois dos quais, a imaginação e a memória, nos interessam aqui. Por meio dessas faculdades, pode recordar e reproduzir na mente as imagens obtidas pelos sentidos externos, formando uma espécie de quadro falante. Pode mesmo reconstruir quadros novos - chamados "fantasias" - com o material fornecido pela experiência anterior.
Além destas faculdades de conhecimento sensível, há também a importantíssima faculdade do desejo sensível, chamada apetite sensível, a qual deseja qualquer objeto bom ou atrativo que os sentidos apresentem ao sujeito, quer de forma real, quer na imaginação. Esta faculdade é automática, isto é, atua imediatamente logo que o objeto lhe é apresentado, e a sua ação é, muitas vezes, acompanhada por aquilo a que os filósofos chamam uma paixão, a qual produz um certo efeito corporal. Podemos ver atuar este apetite - a palavra tem aqui um sentido muito mais vasto do que na linguagem corrente, porque engloba todos os impulsos em direção ao bem desejado, despertados por qualquer dos sentidos - nos nossos momentos de ira, por exemplo, ou no desejo dos alimentos proibidos nos dias de abstinência. Diga-se de passagem que, por ser automático e estar, portanto, fora do controle da vontade, esse desejo não pode ser nunca um pecado em si mesmo. Se isso fosse claramente entendido, evitar-se-ia muita preocupação sobre um suposto consentimento a maus pensamentos, ou à ira, ou similares.
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