Reforma é o nome que damos à grande revolução religiosa do século XVI que destruiu a unidade da cristandade medieval, criou uma nova Europa de Estados soberanos e Igrejas separadas, e perdurou, com pequenas mudanças, até a Revolução Francesa. A catástrofe religiosa estava implícita na evolução gradual da Baixa Idade Média. Surgiu porque a existência de uma sociedade internacional unificada sob autoridade e liderança da Igreja era inconsistente com a nova ordem temporal, como expressa pelos Estados e monarquias nacionais. O conflito inevitável entre Igreja e Estado só poderia levar à desordem. Em particular, a posição anômala do bispo como um funcionário importante em ambas as sociedades levou à secularização da Igreja e ao acúmulo de abusos que nem a Igreja ou o Estado eram capazes de remediar, em decorrência da confusão de pessoas e jurisdições.
O sistema hierárquico da igreja medieval sucumbira, e ninguém era forte ou corajoso o bastante para implementar as drásticas reformas necessárias. Todos estavam de acordo, na teoria, a respeito dos principais males: primeiro, o pluralismo ou acúmulo de benefícios eclesiásticos nas mãos de um único homem e, como resultado direto, a ausência de domicílio; segundo, a simonia ou a dependência de nomeações eclesiásticas e privilégios espirituais sobre a moeda; terceiro, a negligência da regra canônica para visitas episcopais e sínodos diocesanos; e, em quarto lugar, o baixo nível de instrução do clero e a ignorância religiosa do laicato.
DAWSON, Christopher. A Divisão da Cristandade: Da Reforma Protestante à Era do Iluminismo. São Paulo: É Realizações, 2014.

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