terça-feira, 17 de janeiro de 2017

Tempo de provação

Eu não saberia dizer quantas vezes se cumpriram essas palavras proféticas do Apóstolo. Mas só um cego deixaria de ver como atualmente se vêm verificando quase à letra. Rejeita-se a doutrina dos mandamentos da Lei de Deus e da Igreja, tergiversa-se o conteúdo das bem-aventuranças, dando-lhes um significado político-social, e quem se esforça por ser humilde, manso e limpo de coração, é tratado como um ignorante ou atávico defensor de coisas passadas. Não se suporta o jugo da castigada e inventam mil maneiras de ludibriar os preceitos divinos de Cristo. 
Há um sintoma que os envolve e a todos: a tentativa de desviar os fins sobrenaturais da Igreja. Por justiça, alguns já não entendem a vida de santidade, mas uma luta política determinada, mais ou menos tingida de marxismo, que é inconciliável com a fé cristã. Por libertação, não admitem a batalha pessoal em fugir do pecado, mas uma tarefa humana, que pode ser nobre e justa em si mesma, mas que carece de sentido para o cristão, se implica desvirtuação da única coisa necessária, a salvação eterna das almas, uma a uma. 
Com uma cegueira originada pelo afastamento de Deus - este povo honra-me com os lábios, mas o seu coração está longe de mim -, fabrica-se uma imagem da Igreja que não tem a menor relação com a que Cristo fundou. Até o Santo Sacramento do Altar - a renovação do Sacrifício do Calvário - é profanado ou reduzido a um mero símbolo daquilo a que chamam a comunhão dos homens entre si. Que seria das almas se Nosso Senhor não tivesse entregado por nós até a última gota do seu precioso Sangue! Como é possível que se despreze esse milagre perpétuo da presença real de Cristo no Sacrário? Ficou para que chegássemos à intimidade com Ele, para que o adorássemos, para que, como penhor da glória futura, nos decidíssemos a seguir seus passos. 
Estes tempos são tempos de provação e temos de pedir ao Senhor, com um clamor que não cesse, que os abrevie, que olhe com misericórdia a sua Igreja e conceda novamente a luz sobrenatural às almas dos pastores e às de todos os fiéis. A Igreja não tem por que empenhar-se em agradar aos homens, visto que os homens - nem sós nem em comunidade - nunca darão a salvação eterna. Quem salva é Deus. 

São Josemaría Escrivá - Amar a Igreja - São Paulo: Quadrante. 2004. 

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