Eu não saberia dizer quantas vezes se cumpriram essas palavras proféticas do Apóstolo. Mas só um cego deixaria de ver como atualmente se vêm verificando quase à letra. Rejeita-se a doutrina dos mandamentos da Lei de Deus e da Igreja, tergiversa-se o conteúdo das bem-aventuranças, dando-lhes um significado político-social, e quem se esforça por ser humilde, manso e limpo de coração, é tratado como um ignorante ou atávico defensor de coisas passadas. Não se suporta o jugo da castigada e inventam mil maneiras de ludibriar os preceitos divinos de Cristo.
Há um sintoma que os envolve e a todos: a tentativa de desviar os fins sobrenaturais da Igreja. Por justiça, alguns já não entendem a vida de santidade, mas uma luta política determinada, mais ou menos tingida de marxismo, que é inconciliável com a fé cristã. Por libertação, não admitem a batalha pessoal em fugir do pecado, mas uma tarefa humana, que pode ser nobre e justa em si mesma, mas que carece de sentido para o cristão, se implica desvirtuação da única coisa necessária, a salvação eterna das almas, uma a uma.
Com uma cegueira originada pelo afastamento de Deus - este povo honra-me com os lábios, mas o seu coração está longe de mim -, fabrica-se uma imagem da Igreja que não tem a menor relação com a que Cristo fundou. Até o Santo Sacramento do Altar - a renovação do Sacrifício do Calvário - é profanado ou reduzido a um mero símbolo daquilo a que chamam a comunhão dos homens entre si. Que seria das almas se Nosso Senhor não tivesse entregado por nós até a última gota do seu precioso Sangue! Como é possível que se despreze esse milagre perpétuo da presença real de Cristo no Sacrário? Ficou para que chegássemos à intimidade com Ele, para que o adorássemos, para que, como penhor da glória futura, nos decidíssemos a seguir seus passos.
Estes tempos são tempos de provação e temos de pedir ao Senhor, com um clamor que não cesse, que os abrevie, que olhe com misericórdia a sua Igreja e conceda novamente a luz sobrenatural às almas dos pastores e às de todos os fiéis. A Igreja não tem por que empenhar-se em agradar aos homens, visto que os homens - nem sós nem em comunidade - nunca darão a salvação eterna. Quem salva é Deus.
São Josemaría Escrivá - Amar a Igreja - São Paulo: Quadrante. 2004.


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