quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

Deserto e Tentação

O deserto é um dos grandes temas do monaquismo. Os monges vão conscientemente para o deserto para ali estar a sós consigo mesmos e para procurar a Deus. O deserto era considerado pelos antigos como a morada dos demônios. Antão foi para o deserto na intenção de lutar com os demônios dentro de seu próprio domínio, isto é, dentro de sua própria habitação. A decisão de Antão de instalar-se no domínio dos demônios foi certamente uma decisão bastante heroica, mas foi também um desafio aos demônios na medida em que eles o visitavam e sempre de novo procuravam reconquistar seu próprio domínio e habitação, expulsando-o dali. Antão acreditava que, em empreendendo sua luta contra os demônios, também nos homens do mundo alguma coisa haveria de tornar-se mais transparente e saudável. Pois, se vencesse os demônios, então eles também teriam menos poder sobre os homens do mundo. Neste ponto, Antão, por meio de sua luta com os demônios, torna-se também um representante do mundo. No deserto Antão luta contra os demônios em favor dos homens. Esta é sua contribuição para a melhoria do mundo, pois, tendo-se retirado dele, se põe em luta com os demônios em vista de um mundo mais saudável. Segundo Antão, o deserto é o lugar em que os demônios se apresentam de uma maneira bastante clara, isto é, de uma maneira menos dissimulada. Assim como Jesus fora tentado pelo diabo no deserto ao ser conduzido para lá pelo Espírito  Santo, do mesmo modo os monges que vão para o deserto precisam contar com a luta contra os demônios. O monge é essencialmente um lutador. E os patriarcas sempre são elogiados quando se tornam vencedores na luta. 

GRUN, Anselm. O céu começa em você. Petrópolis: Vozes. 2014

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