A Igreja que Paulo deixa em corinto, depois de um ano e meio de atividade missionária e de trabalho pastoral, se compõe de vários grupos cristãos, quer residentes na cidade quer espalhados pelos arredores. É uma Igreja ativa e cheia de iniciativas, que Paulo visitará várias vezes e para a qual escreve diversas cartas. Duas foram conservadas com o título de "primeira e segunda Carta aos Coríntios". A partir desse testemunho pessoal paulino é possível fazer uma ideia mais precisa da origem social e cultural dos cristãos de Corinto, da organização da Igreja coríntia, de seus problemas internos e de sua relação com o ambiente religioso e cultural da cidade.
Na primeira carta à "Igreja de Deus que está em Corinto", Paulo escreve: "Sem cessar, agradeço a Deus por causa de vocês, em vista da graça de Deus que lhes foi concedida em Jesus Cristo. Pois em Jesus é que vocês receberam todas as riquezas, tanto da palavra quanto do conhecimento. Na verdade, o testemunho de Cristo tornou-se firme em vocês, a tal ponto que não lhe falta nenhum dom[...]" (1 Cor 1,4-7a). São os dons espirituais, chamados em grego de charísmata, aos quais os cristãos de Corinto são levados, principalmente para as manifestações da linguagem extática. Em sua carta, Paulo dá instruções para avaliar e exercer de modo ordenado e construtivo tais carismas. Como linha de princípio, ele aprecia e encoraja essas experiências que remontam à ação de Deus por meio do Espírito Santo, comunicado aos fiéis por Jesus Cristo, o Senhor ressuscitado.
Nas duas cartas aos coríntios, Paulo se apresenta como o único fundador da Igreja de Corinto, embora reconheça a contribuição de seus colaboradores no anúncio do Evangelho (2Cor 1,19). Como um arquiteto competente, ele colocou o alicerce, que é Cristo. Os que vieram depois trabalharam no campo ou no edifício de Deus, que é a comunidade dos fiéis (1Cor 3, 1-10). Com efeito, depois do primeiro anúncio do Evangelho, que deu origem à Igreja de Corinto, chegaram outros pregadores itinerantes. Entre eles, se destaca o alexandrino Apolo, que fascinou os coríntios com a sua habilidade no falar. Paulo, porém, reivindica seu papel de pai em relação aos cristãos de Corinto e se apóia nessa função paterna para intervir até mesmo com vigor e autoridade. Ele escreve o seguinte: "De fato, ainda que vocês tivessem dez mil pedagogos, em Cristo, não teriam muitos pais, porque fui eu quem gerou vocês em Jesus Cristo, através do Evangelho" (1Cor 4,15).
FABRIS, Rinaldo. Paulo: Apóstolo dos gentios. 6. ed. São Paulo: Paulinas, 2010.

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