A lei nova, ou do Espírito, não é, por isso, em sentido estrito, a mesma promulgada por Jesus no sermão da montanha, mas sim aquela por Ele gravada nos corações no dia de Pentecostes. Os preceitos evangélicos são, com certeza, mais elevados e perfeitos do que as prescrições mosaicas; todavia, por si sós, também eles teriam permanecido ineficazes. Se fosse suficiente proclamar a nova vontade de Deus por meio do Evangelho, não haveria a necessidade da morte de Jesus e a vinda do Espírito Santo. Entretanto, os próprios apóstolos demonstram que não era suficiente; apesar de terem ouvido tudo - por exemplo, que é preciso oferecer, a quem nos bate, a outra face -, no momento da paixão, não encontram a força para cumprir nenhuma das prescrições de Jesus.
Se Jesus tivesse se limitado a promulgar o mandamento novo, dizendo: "Eu vos dou um novo mandamento: amai-vos uns aos outros" (Jo 13,34,a), Ele teria permanecido, como era antes, lei velha, "letra". É quando Ele, no Pentecostes, mediante o Espírito, infunde aquele amor nos corações dos discípulos que o mandamento se torna, a pleno título, lei nova, lei do Espírito que dá a vida. É pelo Espírito que tal mandamento é "novo", e não pela letra. Pela letra era antigo, pois já se encontra no Antigo Testamento (cf. Lv 19,18).
Portanto, sem a graça interior do Espírito, mesmo o Evangelho, mesmo o mandamento novo, teria permanecido lei velha, letra. Retornando um pensamento ousado de Santo Agostinho, São Tomás de Aquino escreve:
Entende-se por letra toda lei escrita que permanece
do lado de fora do homem, incluindo os preceitos
morais contidos no Evangelho; pelo que, também
a letra do Evangelho levaria à morte, se não se
acrescentasse, dentro dela, a graça da fé que cura.
O conceito que escreveu um pouco antes é ainda mais explícito: "A lei nova é principalmente a própria graça do Espírito Santo que é dada aos crentes".
CANTALAMESSA, Pe. Raniero. Espírito Santo: Princípio de Vida Nova. 2. ed. São Paulo: Canção Nova, 2013.

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