A Igreja, do grego ekklèsia, assembléia convocada, é antes de tudo a Igreja local, a comunidade dos cristãos que moram na mesma localidade. A Igreja universal é percebida como a comunhão das diferentes Igrejas locais.
No século II, a comunidade cristã se organiza. Os ministérios itinerantes que Paulo conheceu (apóstolo, profeta, doutor) são substituídos, pouco a pouco, por ministérios fixos, feitos para estruturar uma comunidade chamada a durar (estamos cada vez menos em um contexto de espera escatológica, em que o retorno de Cristo é percebido como iminente). Esses ministérios são os dos bispos, padres e diáconos.
Bispo (do grego episkopos, aquele que vigia) e padre (do grego presbyteros, o antigo) são, no início, palavras sinônimas (em Clemente de Roma, no fim do século I, e ainda, me parece, em Ireneu, no fim do século II), frequentemente empregadas no plural: a responsabilidade das comunidades devia ser confiada, coletivamente, a um grupo de "antigos". O diácono (do grego diakonos, servo), é o colaborador do bispo para funções mais materiais ou caritativas.
Ao lado desses ministérios principais, há "ordens menores", sobretudo femininas: a das viúvas (logo suplantadas em suas funções pelas diaconisas) e das virgens.
No decorrer do século II, impõe-se um novo funcionamento, mais "monárquico" (de onde provém seu nome entre os historiadores, episcopado monárquico): já então um único responsável pela comunidade, o bispo, centro da Igreja local. Tudo se faz em união com ele. A evolução teve que se fazer progressivamente, sem dúvida com diferenças muito grandes, de acordo com as regiões, e não sem resistências. As cartas de Inácio de Antioquia, no início do século II, afirmam muito fortemente essa função do bispo:
Todos sigam o bispo como Jesus Cristo segue seu Pai; sigam o presbítero como os apóstolos; respeitem os diáconos como um mandamento de Deus. Que ninguém faça o que quer que seja que se refira à Igreja fora do consentimento do bispo. A eucaristia que devemos considerar como certa é a que se faz com a autoridade do bispo ou daquele a quem ele deu o mandato. Lá onde aparece o bispo, que lá também esteja o povo, do mesmo modo que lá onde está o Cristo Jesus, lá esteja a Igreja Católica. Fora do consentimento do bispo, não é permitido batizar, nem realizar o ágape; mas tudo o que ele aprova é também agradável a Deus. Assim, tudo o que se faz será firme e certo (Inácio de Antioquia, Lettre aux Smyrniotes 8, Paris, Le Cerf, 1998 (Col, Sources chrétiennes 10 bis, reed).
MEUNIER, Bernard. O nascimento dos dogmas cristãos. São Paulo: Loyola, 2005.

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