sábado, 24 de dezembro de 2016

A Mensagem da Basílica de Santa Maria Maior, em Roma

Na estrutura interna da fé cristã, o Natal tem um significado muito especial. Não o celebramos da mesma maneira que festejamos o nascimento de grandes homens, porque a relação que temos com Cristo é muito diferente da veneração que prestamos a outras grandes personagens. O que interessa nestas são os seus feitos: os pensamentos que elaboraram e escreveram, as obras de arte que criaram e as instituições que deixaram. Os feitos pertencem-lhes e não são obras das suas mães, que só nos interessam na medida em que nos podem ajudar a esclarecer esses feitos. 
Mas Cristo não vale para nós unicamente pela sua obra, pelo que fez, mas sobretudo pelo que era e pelo que é - a totalidade da sua pessoa. Ele vale para nós mais do que qualquer outro ser humano, porque é mais do que simples homem. Ele vale porque n´Ele a terra e o céu se tocam e assim, n´Ele, Deus se torna palpável para nós. Os Padres da Igreja denominaram Maria como terra sagrada, de onde Ele foi formado como homem. O maravilhoso é que Deus, em Cristo, entrou para sempre em contato com a terra. Agostinho exprimiu assim este pensamento: Cristo não quis nenhum pai humano para que fosse visível a sua filiação divina, mas quis uma mãe humana: "Quis assumir em si o gênero masculino e na sua mãe honrou o gênero feminino... Se Cristo como homem aparecesse sem o contributo do gênero feminino, então as mulheres teriam razão para desesperar... Mas Ele quis venerar, recomendar e acolher os dois gêneros. Homens, não desespereis; Cristo dignou-se ser homem; Mulheres, não desespereis: Cristo dignou-se nascer de uma mulher. Ambos os gêneros contribuíram para a salvação: temos o masculino e o feminino - na fé não há homem nem mulher". 
Expressemo-lo de outra maneira. No drama da salvação não acontece como se Maria fizesse o seu papel e saísse de cena, como alguém que terminou a sua função. O papel da mulher na encarnação não se esgota em pouco tempo. É a permanência do ser de Deus na terra, com os homens, conosco, que também somos terra. Por isso, o Natal é uma festa de Maria e de Cristo ao mesmo tempo. Por isso, uma igreja da Natividade tem de ser uma Igreja de Maria. É com esses pensamentos que devemos olhar para a imagem antiquíssima e misteriosa, que os romanos chamam de "Salus populi Romani". 

RATZINGER, Joseph. Esplendor da Glória de Deus: Meditações para o Ano Litúrgico. Braga: Franciscana, 2005.

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