domingo, 19 de março de 2017

A importância e o exemplo de São José

Quando Deus deseja que alguém dê conta de determinada missão, oferece-lhe todas as graças necessárias para que ela seja cumprida. Depois de Maria, que levou Cristo no próprio ventre, ninguém teve missão tão importante quanto José. Aquele simples e humilde carpinteiro de Nazaré passou grande parte da vida ao lado da Virgem e do Salvador, servindo-lhes de guardião. Não houve, além de Maria, santo tão importante quanto são José. Ele foi maior que todos os apóstolos, foi maior que todos os profetas. 
Quantas graças esse homem não recebeu apenas por conviver e escutar Nossa Senhora? E ao meditar sobre os passos e o mistério daquele Menino que se desenvolvia diante de seus olhos? Como não deve ter crescido em santidade e em perfeição?
Por muitas razões, são José é modelo para todos os cristãos. Em primeiro lugar, destacou-se por sua obediência à vontade de Deus. Tudo o que Deus lhe pediu, José fez: aceitou Maria como esposa, assumiu o Menino, partiu para Belém, foi ao Egito, voltou a Nazaré... Como um garotinho dócil, nunca questionou seu Criador, nunca pediu explicações, nunca se rebelou, nunca fez corpo mole.. Mesmo com tantos motivos, José nunca duvidou ou desanimou. 

São José: o homem simples que aceitou a missão de ser pai do Filho de Deus. Rio de Janeiro: Petra, 2016. 

sexta-feira, 17 de março de 2017

Prioridade da vida interior sobre a vida ativa

Em Deus está a vida, toda a vida. Ele é a própria vida. Ora, não é nas obras exteriores, como a Criação, que o Ser infinito manifesta essa vida do modo mais intenso, mas sim no que a teologia chama operações ad intra: essa atividade inefável cujo termo é a geração perpétua do Filho e a incessante processão do Espírito Santo. Essa é, por excelência, a sua obra essencial, eterna. 
A vida terrena de Nosso Senhor Jesus Cristo foi a realização perfeita do plano divino. Trinta anos de recolhimento, seguidos de quarenta dias de retiro e penitência, prepararam a sua curta carreira evangélica; e, durante as suas jornadas apostólicas, quantas vezes ainda, O vemos retirar-se para as montanhas ou para os desertos, a fim de orar: "Ele retirava-se para lugares solitários e entregava-Se aí à oração" (Lc 5, 16). Ou passar a noite a rezar: "Naqueles dias, Jesus foi para o monte a fim de fazer oração, e passou a noite a orar a Deus" (Lc 6,12). Rasgo ainda mais significativo: Marta deseja que o Senhor, condenando a suposta ociosidade da sua irmã, proclame a superioridade da vida ativa; a resposta de Jesus: "Maria escolheu a melhor parte" (Lc 10, 42), consagra a importância da vida interior. Jesus quis, pois, fazer-nos ver, claramente, a preponderância da vida de oração sobre a vida ativa. 
Os Apóstolos, fiéis aos exemplos do Mestre, reservaram para si o ofício da oração e o ministério da palavra, deixando as ocupações mais exteriores aos diáconos: "Quanto a nós, entregar-nos-emos, assiduamente, à oração e ao exercício da palavra" (At 6,4). 
Os Papas, os santos doutores e os teólogos afirmam, por sua vez, que a vida interior é superior à vida ativa.

CHAUTARD, Jean-Baptiste. A alma de todo o apostolado. São Paulo: Artpress. 2015. 

terça-feira, 14 de março de 2017

Sagrada Escritura

Estudar a Sagrada Escritura é estudar o mais belo que existe. Hoje se ouve dizer com frequência: "Deus já não fala em nosso mundo; está calado". Não é certo! Deus sempre falou e segue falando. Faz isto através da sua Palavra contida na Bíblia. 
Queremos escutar a Deus? Abramos a Sagrada Escritura. Aí está tudo o que devemos fazer para chegarmos ao céu. Aí está o caminho para a verdadeira felicidade. Aí está a solução para todos nossos problemas. Só temos que abrir, ler, meditar, interiorizar, viver e transmitir essa mensagem de Deus para nós. 
A Bíblia não é letra morta ou muda. Ela nos interroga, interpela, anima, acusa, ensina, admoesta. A quem medita a Bíblia lhe acontecerá o que aconteceu aos discípulos de Emaús, cujos corações ardiam quando Jesus lhes explicou as Escrituras pelo caminho da vida (cf. Lc 24, 13-15). 
Abrir a Bíblia é se comprometer com Deus, que nos fala. Não se pode se aproximar da Bíblia como curioso, mas sim como criatura diante do Criador, como filho diante do seu Pai, como servo diante do seu Senhor. "Fala, Senhor, que o teu servo escuta". A Bíblia é um livro, não só para estudar, mas também para meditar, viver e transmitir. "Bem- aventurados os que escutam a Palavra de Deus e a põem em prática". (Lc 11, 28). 

RIVERO, Antonio. CURSO BÍBLICO PARA LEIGOS. A RIQUEZA DA PALAVRA DE DEUS ANTIGO E NOVO TESTAMENTO. Juiz de Fora: Martyria. 2014. 

domingo, 12 de março de 2017

O que significa ser santo?

Ao definir o que significa ser santo, corremos o risco de deturpar a realidade, acomodando ao nosso próprio conceito. Santo é uma destas palavras, como tantas outras, cujo sentido foi se transformando através dos tempos; antes temperança significava apenas abstinência de bebida, hoje caridade suscita a ideia de esmola e liberal lembra política. Atualmente ser santo não é algo muito apreciado; devoção e beatice tem significado pejorativo, parecem sugerir hipocrisia ou retrocesso. 
Não é normal apresentar alguém, dizendo: Tenho a honra de apresentar fulano, um grande santo; ficaríamos espantados se escutássemos que uma atriz, um jogador de futebol ou um político é um santo. Mesmo quando se diz que um homem é santo, significa que tal pessoa é um excelente amigo, com ideais superiores. Quando um homem responde com naturalidade: na verdade não sou santo, porém trabalho para ser; tal pessoa presta homenagem aos santos, confessa implicitamente quão longe se encontra da perfeição, sem querer passar por vaidoso ou crítico. 
Os santos foram homens de carne e osso! Não são personagens fictícias!
Muitos santos foram completamente desconhecidos ou a história pouco fala a respeito. São como os incontáveis soldados mortos nas guerras, em cujos túmulos se encontram as palavras: Conhecido só por Deus. 

MARTINDALE, Charles. A santidade através dos tempos. O que significa ser santo? São Paulo: Ecclesiae. 2010

sábado, 11 de março de 2017

O amolecimento dos bons

Ocorre-me uma palavra de Pio XII que cito de memória: "tenho medo do cansaço dos bons". O grande Papa que ainda sabia que "viver é lutar" e que a vida vivida na sequela de Cristo é um combate, um bom e árduo combate, "uma guerra sem tréguas contra três cruéis inimigos: o mundo, o demônio e o amor-próprio", se ainda hoje vivesse e reinasse, certamente repetiria seu grito de alarme em vários tons e com maior severidade: "o que mais temo não é só o cansaço dos católicos conscientes, é a moleza, é a pusilanimidade, é a tolerância ditada pela covardia, erigida em sistema e vista como a maior virtude do novo humanismo". 
Aos católicos que ainda não se transmutaram, e que não esqueceram a língua de Deus, não precisaria citar I Mac III, 59. Cito a conhecida passagem pelo amoroso gosto de escrever com meus garranchos e meu resto de vida estas belas palavras do Livro Santo: "Para nós é melhor morrer na guerra do que ver o mal de nossa gente e das coisas santas". Dos Macabeus ao apóstolo Paulo, que se alegrava de ter combatido o bom combate, vê-se a inflexível direção da História Sagrada que ganha nova dimensão na Encarnação de Cristo e culmina na Cruz e só terminará, não no dia de um Congresso Ecumênico que festejasse la réussite de l´homme, mas, ao contrário, na espantosa e terrível separação que desde já, no temor e tremor, nos lembra que o seu critério é o da sujeição à vontade de Deus, e não o da fraternidade de irmãos de pai desconhecido. 
É claro que a luta a que nos referimos, quando dizemos que viver é lutar, é mais espiritual do que temporal. O apóstolo Paulo diz: "Porque nós não temos que lutar somente contra a carne e o sangue, mas sim contra os principados e potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra os espíritos malignos espalhados pelos ares". Por isso tornamos a dizer o que dias atrás já dissemos e que, nos frutuosos tempos de quaresma, convém repetir: a melhor luta que devemos travar para o bem de nossos irmãos e para o agrado de Deus é a de nossa santificação pessoal que nos obriga a colocar a defesa das coisas santas acima de todos os problemas temporais. Sim: a luta pela santificação é o meu primeiro dever em relação a Deus e ao próximo. 

CORÇÃO, Gustavo. Uma teologia da história. Niterói: Permanência. 2015

sexta-feira, 10 de março de 2017

Testemunhas na era pagã

A cena muda, mas as divisões persistem. Todavia, o contexto em que a Igreja atua é um mundo já pagão...

Joseph Ratzinger -  Sem dúvida, a descristianização chegou a níveis que não conseguiríamos imaginar na época do encerramento do Concílio. Basta pensar que na ex-Alemanha comunista pouco menos de 1% da população se batiza. Assistimos a um progresso incrível do paganismo, e o cristianismo, que ainda parecia presente há trinta anos, desaparece da vida e da consciência pública. Assim, temos que nos confrontar com um pós-cristianismo muito forte não só no Ocidente mas também no Oriente. Basta pensar na Rússia, onde encontramos a mesma situação: existe um núcleo de fiéis, mas a grande maioria quase não é tocada pelo Evangelho. Por isso, nasce uma exigência de uma real nova evangelização, que se dirija a essas pessoas distantes do cristianismo, embebidas de secularismo, que devem ser aproximadas da realidade divina. Essa é a grande missão para os próximos anos. 

Hoje, todas falam de nova evangelização, mas ela pode se tornar uma palavra de ordem. O que significa evangelizar? Como pode acontecer a fé para o homem de hoje?

Joseph Ratzinger: Creio que as testemunhas são a primeira condição para essa evangelização. Pessoas que, vivendo a fé e verificando-a na sua vida, mostrem com clareza que a fé faz viver e possibilita uma vida autenticamente humana na comunhão e na comunidade. Só assim o conteúdo da mensagem torna-se compreensível. Por isso, precisamos de núcleos de cristãos onde essa verificação da fé na vida - pessoal e comunitária - se realize e ofereça a todos uma experiência cujas raízes vale a pena conhecer. 

RATZINGER, Joseph (Bento XVI). Ser cristão na era neopagã - vol.3: entrevistas (1986-2003) / Cardeal Ratzinger; organização, apresentação e notas de Rudy Albino de Assunção - Campinas, SP: Ecclesiae, 2016. 

quinta-feira, 9 de março de 2017

Aborto

O aborto é entendido como a interrupção da gravidez quando o feto ainda não é viável, isto é, não pode subsistir fora do útero materno. Pode ser classificado em: 
- Espontâneo: a interrupção da gravidez acontece por causas naturais sem a livre intervenção humana. Causa: normalmente é a má formação do próprio embrião (estudos mostram que ocorrem de 10 a 15% de abortos de todas as concepções). 
- Provocado: é realizado pela livre intervenção da pessoa humana. Deve haver um ato positivo, isto é, uma ação para que ele aconteça. As razões que provocam o aborto são normalmente chamadas de indicações. 
Quando o aborto é provocado, existem duas formas de colaboração: 
Formal: colaboração direta e intencional. Ela é imoral e ilícita. É feita por médicos, familiares, parentes, namorados, esposos, legisladores, advogados etc. que realizam, que agem diretamente, incentivam, apoiam o aborto ou induzem a ele. 
Material: colaboração indireta e não-intencional. São ilícitas as atividades que não têm outra finalidade do que preparar as condições para o aborto: cirurgiões, ajudantes, médicos assistentes, ginecologistas presentes na execução, anestesistas, juiz tutelar em caso de menores ou deficientes mentais etc. 

COELHO, Mário Marcelo Pe. O que a Igreja ensina sobre... São Paulo: Canção Nova: 2016. 

quarta-feira, 8 de março de 2017

Por que e como devemos amar a Deus

Queres então saber de mim por qual motivo e em que medida devemos amar a Deus? Bem, digo que o motivo de nosso amor por Deus é o próprio Deus, e que a medida desse amor é amar sem medida. Está suficientemente claro? Sim, talvez, para um homem inteligente, mas devo falar para sábios e ignorantes, e se já disse de modo claro para os primeiros, devo também considerar os segundos. É então para eles que vou desenvolver minhas ideias, e procurar aprofundá-las. Digo que temos duas razões para Deus ser amado por si mesmo: não há nada de mais justo e nada de mais vantajoso. Com efeito, esta pergunta "por que devemos amar a Deus"? apresenta-se sob dois aspectos: por que Deus merece vosso amor, e que vantagem temos em amá-lo. Vejo uma resposta para ambas: a razão pelo qual devemos amar a Deus é ele mesmo. Do ponto de vista do merecimento, o grandioso Deus se deu a nós, a despeito de nossa indignidade. Com efeito, o que poderia nos dar que valesse mais do que ele mesmo? Quando perguntamos quais razões temos para amar a Deus, e como adquiriu o direito ao nosso amor, constatamos que a principal é que ele nos amou primeiro. Merece, então, nossa retribuição, sobretudo se consideramos quem é aquele que ama, quem são os amados e como os ama. Quem é, com efeito, aquele que nos ama? É aquele a quem todo espírito presta este testemunho: "És meu Deus, e não precisas do que tenho" (Sl 15,2). E esse amor em Deus não é a verdadeira caridade, visto que não ocorre por interesse? Mas a quem se dirige esse amor gratuito? O Apóstolo responde: "Quando éramos inimigos de Deus é que nos reconciliamos com ele" (Rm 5,10). Deus nos amou com um amor gratuito, mesmo sendo seus inimigos. 

SÃO BERNARDO DE CLARAVAL. Tratado sobre o Amor de Deus. São Paulo: Paulus. 2015

terça-feira, 7 de março de 2017

Limitações e liberdade do ser humano

É com a tentação de Israel em mente que a Sagrada Escritura retrata a tentação de Adão e, em geral, a natureza da tentação e do pecado em qualquer idade. A tentação não começa com a negação de Deus e com a queda direta num ateísmo. A serpente não nega Deus, aparentemente: começa antes com um pedido perfeitamente razoável de informação que, na realidade, contém uma insinuação provocadora do ser humano e o atrai da confiança à desconfiança: "É verdade ter-vos Deus proibido de comer o fruto de alguma árvore do jardim?" (Gn 3,1). A primeira coisa não é a negação de Deus, mas a dúvida acerca da sua aliança, acerca da comunidade de fé e oração, dos mandamentos, de tudo quanto é contexto para viver a aliança de Deus. Existe, de fato, uma grande iluminação quando se duvida da aliança, se experimenta a desconfiança, se exige liberdade e se renuncia a obedecer à aliança como se ela fosse um colete de forças que impede o gozo das reais promessas da vida. É tão fácil convencer as pessoas de que essa aliança não é um dom, mas antes uma expressão de inveja relativamente à humanidade, que rouba aos seres humanos a liberdade, bem como as coisas mais preciosas da vida. Com esta dúvida, as pessoas ficam no bom caminho para construírem os seus mundos. Por outas palavras, é então que tomam a decisão de não aceitar as limitações da sua existência; é então que decidem não se deixar amarrar pelas limitações impostas pelo bem e pelo mal, ou pela moralidade em geral, mas, muito simplesmente, se libertam a sia mesmo mas ignorando-as.

RATZINGER, Joseph. No princípio Deus criou o céu e a terra. Portugal: Principia. 2013

segunda-feira, 6 de março de 2017

CRISTO

A pergunta pode ser feita dentro de um sentido plenamente cristão: o Filho de Deus fez-se homem para agir ou para morrer? Vários Padres da Igreja - como Tertuliano, Gregório de Nissa e Leão Magno - responderam sem hesitação: ele nasceu para poder morrer. 
Enquanto ele agiu, ao longo de sua vida, sua obra foi um fracasso, e quanto mais amorosamente se arriscou, mais claramente foi rejeitado. Qual a razão disso? A resposta poderia ser resumida em uma frase: toda a sua ação terrena se deu, desde o princípio, na plena autoentrega a seu Pai celestial, e esse autoentrega encontrou o seu ponto culminante e, com isso, também a sua plena realização, na Cruz. 
Essa resposta soa enigmática em sua brevidade, e, de fato, para compreendê-la plenamente, falta-nos um conceito. Jesus afirma que não veio para fazer a Sua vontade, mas a vontade daquele que o enviou. Esse seria o seu alimento. O conceito que nos falta é aquele da Missão. Com ele, conseguimos vislumbrar, de longe, a unidade que procuramos.:
Porque Jesus, o Filho de Deus, está aqui apenas para cumprir, em sua obra e seu amor, uma missão de Deus. Ele levará essa missão tão a sério quanto possível; não se pode falar, aqui, de um distanciamento interior da missão. 
Porque Jesus sempre identificou todo o seu "eu" com sua missão, ele também se abandonou à vontade do Pai. Ele não pode retroceder para uma esfera anterior à sua missão para encontrar o seu "ego", para encontrar-se a si mesmo. 
Mas em que consiste a missão? Consiste nisso, que ele reconcilie o mundo afastado de Deus - por meio de seu amor que chega ao mais extremo dos extremos - com o seu Criador, o que só será possível pelo fato de ele tomar sobre si todo esse sofrimento, suportando-o (como que através de um eclipse de Deus) até o fim, e com efeito, até além do seu fim, pois sua obediência amorosa é, de fato, mais profunda e definitiva do que toda a rebelião do pecado consegue ser. 

BALTHAZAR. Hans Urs von. Vida a partir da Morte. Meditações sobre o mistério pascal. São Paulo: Paulus. 2016. 

domingo, 5 de março de 2017

Perseverar até o fim

Vigie sobre a vida uns dos outros. Não deixe que sua lâmpada se apague, nem afrouxe o cinto dos rins. Fique preparado porque você não sabe a que horas nosso Senhor chegará.
Reúna-se com freqüência para que, juntos, procurem o que convém a vocês; porque de nada lhe servirá todo o tempo que viveu a fé se no último instante não estiver perfeito.
De fato, nos últimos dias se multiplicarão os falsos profetas e os corruptores, as ovelhas se transformarão em lobos e o amor se converterá em ódio.
Aumentando a injustiça, os homens se odiarão, se perseguirão e se trairão mutuamente. Então o sedutor do mundo aparecerá, como se fosse o Filho de Deus, e fará sinais e prodígios. A terra será entregue em suas mãos e cometerá crimes como jamais foram cometidos desde o começo do mundo.
Então toda criatura humana passará pela prova de fogo e muitos, escandalizados, perecerão. No entanto, aqueles que permanecerem firmes na fé serão salvos por aquele que os outros amaldiçoam.
Então aparecerão os sinais da verdade: primeiro, o sinal da abertura no céu; depois, o sinal do toque da trombeta; e, em terceiro, a ressurreição dos mortos. Sim, a ressurreição, mas não de todos, conforme foi dito: "O Senhor virá e todos os santos estarão com ele". Então o mundo assistirá o Senhor chegando sobre as nuvens do céu.

DIDAQUÉ - A doutrina dos Apóstolos. São Paulo: Livre. 2016

sábado, 4 de março de 2017

A cura dos ferimentos sofridos na vida

Um dos empecilhos que sempre preocupa os monges é o sentimento da tristeza. Num apotegma se diz: 'Pai Poimen foi questionado por um irmão: "Pai, o que devo fazer, pois sou abatido pela tristeza?" O ancião lhe respondeu: "Não olhes para ninguém à toa, não julgues ninguém, não calunies ninguém e o Senhor te dará repouso". 
Aqui não se propõe nenhum método sobre o melhor modo de lidar comigo mesmo, como devo ver um mim mesmo a positividade, mas, de forma paradoxal, um comportamento em relação ao outro. Livro-me de minha tristeza quando não julgar os outros. Aqui, seguramente, a tristeza está estritamente ligada ao fato de eu me colocar acima dos outros, descobrindo que eu próprio não sou coerente com meus ideias. Na medida em que prezo os outros e não mais os desprezo, também não preciso mais desprezar a mim mesmo. A nova visão do outro me libertará da imagem falsa que tenho de mim mesmo, que é a causa de minha tristeza. 
Muitos dos ferimentos que arrastamos conosco de um lado para outro nos foram impingidos por pessoas, por pais e educadores, por invejosos e pessoas que não estão em unidade consigo mesmas. Um conselho que nos dão os Padres é que devemos reconciliar-nos com os ferimentos e descobrir ali o cerne de nossa doença. 
Se quiseres sanar os ferimentos terríveis da alma, deves suportar o que o médico te receita. Quem está doente não gosta de sofrer amputações ou purificações. Não gosta de se lembrar de que está doente, mas no fundo está convencido de que não poderá ser curado de sua doença sem esse tratamento. E assim suporta aquilo que o médico lhe receita. Sabe que ficará curado de uma longa doença mediante um pequeno desprazer. O médico Jesus liberta da glória vã. Quem foge de uma prova útil foge da vida eterna. Quem é, pois, que ajuda Santo Estêvão a ter tal glória, se não aqueles que o apedrejam? 
Os ferimentos que os outros me infligem revelam minha própria doença. 

GRUN, Anselm. A orientação espiritual dos Padres do deserto. Petrópolis: Vozes. 2013 

sexta-feira, 3 de março de 2017

Amem a cruz, não com amor sensível mas racional e sobrenatural

Quando se vos diz que deveis amar a cruz, não se pretende referir a um amor sensível. Isso é contra a natureza humana. Devereis, pois, distinguir três espécies de amor: o amor sensível, o amor racional, o amor fiel e supremo. Com outras palavras, o amor que procede da parte inferior e que é carnal; o amor que procede da parte superior e que é a razão; e o amor que está acima do espírito, ou amor supremo, e que é a inteligência, iluminada pela fé. 
Deus não vos pede para amardes a cruz de maneira sensível. A vossa "vontade da carne", na verdade, é inteiramente propensa ao mal e a que dele procede resulta manchado; daí que não aceitará submeter-se, por vontade própria, à vontade divina e à sua lei, que não dispensa a cruz. 
Referindo-se a esta "vontade da carne", Jesus no Jardim das Oliveiras, exclamava: "Pai, não se faça a minha, mas a tua vontade". Ora, se a parte sensível da própria humanidade de Cristo, apesar de santa, não pôde amar de imediato a cruz, quanto mais não será tentada a rejeitá-la a nossa sensibilidade, que é toda corrupta. Talvez possamos, por vezes - a exemplo de muitos santos - saborear até o prazer sensível da cruz, mas esse prazer não procede dos sentidos, ainda que more no reino da sensibilidade; ele procede da parte mais nobre da alma que está tão repleta de felicidade do Espírito Santo que a faz transbordar para a parte sensível. E assim, até a pessoa mais crucificada poderá exclamar: "O meu coração e a minha carne estremecem de alegria no Deus vivo". 

SÃO LUIS DE MONTFORT. Carta aos amigos da Cruz. São Paulo: Cléofas. 2014

quinta-feira, 2 de março de 2017

A GRANDE QUARESMA

Os evangelhos falam dum tempo de solidão que Jesus passou no deserto, imediatamente depois de ter sido baptizado por João: «Impelido»pelo Espírito para o deserto, Jesus ali permanece sem comer durante quarenta dias. Vive com os animais selvagens e os anjos servem-n'O.
No fim desse tempo, Satanás tenta-O por três vezes, procurando pôr em causa a sua atitude filial para com Deus; Jesus repele esses ataques, que recapitulam as tentações de Adão no paraíso e de Israel no deserto; e o Diabo afasta-se d'Ele «até determinada altura» (Lc 4, 13).
Os evangelistas indicam o sentido salvífico deste acontecimento misterioso, Jesus é o Novo Adão, que Se mantém fiel naquilo em que o primeiro sucumbiu à tentação. Jesus cumpre perfeitamente a vocação de Israel: contrariamente aos que outrora, durante quarenta anos, provocaram a Deus no deserto, Cristo revela-Se o Servo de Deus totalmente obediente à vontade divina. Nisto, Jesus vence o Diabo: «amarrou o homem forte», para lhe tirar os despojos. A vitória de Jesus sobre o tentador, no deserto, antecipa a vitória da paixão, suprema obediência do seu amor filial ao Pai.
A tentação de Jesus manifesta a maneira própria de o Filho de Deus ser Messias, ao contrário da que Lhe propõe Satanás e que os homens desejam atribuir-Lhe. Foi por isso que Cristo venceu o Tentador, por nós: «Nós não temos um sumo-sacerdote incapaz de se compadecer das nossas fraquezas; temos um, que possui a experiência de todas as provações, tal como nós, com excepção do pecado» (Heb 4, 15). Todos os anos, pelos quarenta dias da Grande Quaresmaa Igreja une-se ao mistério de Jesus no deserto.

CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA - parágrafos 538-540

quarta-feira, 1 de março de 2017

Quaresma

Vem do latim quadragesima dies (o dia quadragésimo antes da Páscoa). É o tempo de preparação "pelo qual se sobe ao monte santo da Páscoa", como o descreve o Cerimonial dos Bispos. Começa na Quarta-Feira de Cinzas e termina na tarde de Quinta-feira Santa, antes da Missa vespertina da Ceia do Senhor, com que se inaugura o Tríduo Pascal. 
Organizou-se a Quaresma a partir do século IV. A sua história anterior não é muito clara. Parece que o seu germe original foi um jejum pascal de dois dias, na Sexta e no Sábado antes do Domingo da Ressurreição, espaço que, pouco a pouco, se alargou para uma semana, depois para três e, segundo as diversas regiões, sobretudo nas do Oriente, como o Egito, até para seis semanas ou quarenta dias. Em Roma, a Quaresma já estava constituída entre os anos 350 e 380. 
Para dar sentido a esse período, como preparação da Páscoa, teve certamente grande influência o simbolismo bíblico do número quarenta: os episódios de quarenta dias do dilúvio, antes da aliança com Noé; de Moisés e os seus quarenta dias no monte; do Povo de Israel e os seus quarenta anos pelo deserto; de Elias caminhando quarenta dias para o monte do encontro com Deus; e, sobretudo, os quarenta dias de Jesus no deserto, antes de começar a sua missão messiânica. Esses episódios têm em comum o significado de um tempo de prova, de purificação e de preparação para um acontecimento importante e salvador. "Todos os anos, pelos quarenta dias da Grande Quaresma, a Igreja une-se ao mistério de Jesus no deserto" (CIC 540). 

ALDAZÁBAL, José. Vocabulário Básico de Liturgia. São Paulo: Paulinas. 2013

terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

A invasão vertical dos Bárbaros

Não é possível que a Igreja Católica e os protestantes queiram fazer alguma coisa de mais sério se não preparam devidamente os seus homens. Não é possível fabricar padres como se fabricam salsichas. A vida pastoral não é tão simples como parece a muitos. E, ademais, ele não encontrar pela frente apenas pessoas que precisam de amparo religioso, mas que precisam também de um forte amparo moral e filosófico. O clero não pode deixar de reconhecer essa necessidade. Por isso não é admirar que inúmeros padres, sobretudo na América Latina, escolhem o lado do comunismo para lutar, julgando que é o único caminho que ainda oferece uma solução para resolver os problemas sociais que surgem neste parte do mundo, dos mais agudos que existem. 
A ignorância do clero sobre matéria social é lamentável. Havendo doutrinas sociais democráticas, libertárias e totalitárias, preferem esses homens as duas últimas, as mais contrárias ao verdadeiro espírito cristão, embora mais agradáveis ao espírito de sacerdotes cesariocratas, que julgam que irão abiscoitar a revolução social para o seu lado, imaginando que os comunistas vão ser tão ingênuos que, quando vitoriosos, se um dia tal desgraça acontecesse no mundo, iriam poupar a Igreja e admitir que o clero participasse também do poder. 

SANTOS, Mário Ferreira. Invasão vertical dos Bárbaros. São Paulo: É Realizações. 2015

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

Deus, portanto dá carta branca ao diabo?

Santo Agostinho sustenta que, se o diabo tivesse carta branca de Deus, "nenhum de nós permaneceria vivo". 
"O poder de Satanás não é infinito - lê-se no n. 395 do Catecismo da Igreja Católica. Ele não é mais que uma criatura, potente pelo fato de ser puro espírito, mas embora sempre uma criatura: não pode impedir a edificação do reino de Deus. 
Embora Satanás aja no mundo por ódio contra Deus e o seu reino em Cristo Jesus e, embora a sua ação cause graves danos da natureza espiritual e indiretamente também de natureza física para todo homem e para a sociedade, esta ação é permitida pela divina Providência, a qual guia a história do homem e do mundo com força e doçura. A permissão divina da atividade diabólica é um grande mistério, mas "nós sabemos que tudo concorre para o bem daqueles que amam a Deus" (Rm 8,28). 
Eis então que nós nos confiamos a Jesus Cristo, o Filho de Deus feito homem, que veio "para destruir as obras do diabo" (1 Jo 3,8) onde libertar nós seres humanos da escravidão de Satanás, Jesus Cristo expulsa "os demônios com o dedo de Deus" (Lc 11,20), no sentido de que consegue amarrar Satanás, privá-lo de tudo, também do seu reino, que está para acabar. A mesma coisa faz hoje sobre a terra mediante a Igreja e os sacerdotes exorcistas: "eu expulso demônios - vem reafirmando - e faço curas hoje e amanhã; e no terceiro dia chegarei ao termo" (Lc 12,32). 
Portanto, estejamos tranquilos, porque da nossa parte temos o Forte e a Igreja, como veremos em breve. 

AMORTH, Gabriele. Deus é mais belo que o diabo. São Paulo: Fons Sapientiae: 2016. 

domingo, 26 de fevereiro de 2017

Frequência das tentações

A frequência e violência das tentações variam em extremo: há almas que são amiudada e violentamente tentadas; outras há que o são apenas raras vezes e sem se sentirem profundamente abaladas. Muitas são as causas que explicam esta diversidade.
a) Em primeiro lugar, o temperamento e o caráter: há pessoas extremamente apaixonadas e ao mesmo tempo fracas de vontade, frequentemente acometidas e perturbadas pela tentação; outras, bem equilibradas e enérgicas, que não são tentadas senão raramente e conservam a serenidade no meio da tentação.
b) A educação origina outras diferenças: há almas educados no temor e amor de Deus, no cumprimento habitual do dever austero, que não receberam quase senão bons exemplos; outras, pelo contrário, foram educadas no amor do prazer e no horror de qualquer sofrimento, e não viram quase senão exemplos de vida mundana e sensual. É evidente que as segundas serão mais violentamente tentadas que as primeiras. 
c) É necessário também ter em conta os desígnios da Providência: há almas que Deus chama a um alto grau de santidade e que preserva de toda a mácula com o mais desvelado carinho; outras que destina também à perfeição, mas que quer fazer passar por árduas provações, a fim de as robustecer na virtude; outras, enfim, que Deus não chama a estado tão elevado e que serão mais frequentemente tentadas, se bem que nunca acima das suas forças. 

TANQUEREY, Ad. Compêndio de Teologia Ascética e Mística. Portugal: Porto. 1961

sábado, 25 de fevereiro de 2017

A via ordinária da ação diabólica: tentação e pecado

A missão de Satanás é explicada claramente pelo apóstolo São Pedro: "O vosso inimigo, o Diabo, é como um leão rugindo em torno, procurando a quem devorar" (1 Pedro 5,8). Podemos interpretar a palavra "devorar" como "causar dano", "levar à perdição". Sua missão no mundo consiste em seduzir as almas, conduzir cada homem e cada mulher pelos péssimos caminhos do pecado. Nessa trágica missão, a via mestra é o percurso ordinário da tentação. Contra as tentações que visam nos levar ao pecado, cada um deve combater até o último dia. De fato, o pecado conduz à morte. 
Não deve surpreender a minha afirmação de que a via ordinária faz mais vítimas do que a via extraordinária, sobre a qual falaremos adiante. Por meio da primeira, todos somos vítimas; por meio da via extraordinária, somente algumas pessoas, além disso, muitas vezes sem culpa própria e, portanto, sem responsabilidade moral. A tentação nos assalta todo santo dia. Até Jesus aceitou sujeitar-se a ela durante os quarenta dias que passou no deserto, após ter sido batizado no Jordão (cf. Mateus 4,1ss), e também depois disso. Tenta-nos Satanás agindo em nossa esfera natural, isto é, ora levando em conta nossas feridas interiores e as fraquezas de cada um, ora por meio das ocasiões próximas de pecado que se apresentam a todos. 
A tentação é perigosa porque nem sempre é fácil de ser descoberta nos recantos de nossos pensamentos, palavras, obras e omissões. É preciso ter discernimento, um olhar e uma inteligência espiritual adestrada para reconhecer o guiso do tentador e recusar aquilo que nos conduz diretamente ao pecado, aceitando, ao invés, as boas aspirações que provém de Deus. Para isso é necessário guardar o nosso coração e nossos sentidos externos dos espetáculos indecentes. Cada um de nós se torna tudo o que vê, o que ouve, além do que lê. Discernimento, pois! E escolha de boas amizades. 

AMORTH, Gabriele. O exorcista explica o mal e suas raízes. Rio de Janeiro: Petra. 2016

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

Como se deve ouvir e ler a Palavra de Deus

Deves ter um gosto especial em ouvir a Palavra de Deus, mas ouve-a sempre com atenção e respeito, quer no sermão, quer em conversas edificantes dos teus amigos que gostam de falar em Deus. É a boa semente, que não se deve deixar cair em terra. Aproveita-te bem dela; recebe-a no teu coração como um bálsamo precioso, à imitação da Santíssima Virgem, que conservava no seu peito, cuidadosamente, tudo o que ouvia dizer de seu Divino Filho, e lembra-te sempre que Deus não ouvirá favoravelmente as nossas palavras na oração se não tirarmos proveito das suas nos sermões. 
Tem sempre contigo um bom livro de devoção, como os de São Boa Ventura, o Combate Espiritual, as Confissões de Santo Agostinho, as Epístolas de São Jerônimo e outros semelhantes. Lê-o por algum tempo todos os dias, mas com tanta atenção como se um santo to enviasse expressamente para te ensinar o caminho do céu e encorajar-te a trilhá-lo. 
Lê também as vidas dos santos, onde verás, como em um espelho, o verdadeiro retrato da vida devota, acomodando os seus exemplos aos deveres do teu estado. Pois, embora muitas ações dos santos não possam ser imitadas por pessoas que vivem no século, contudo, de perto ou de longe, todas elas podem ser seguidas. Imita a grande solidão de São Paulo, o primeiro eremita, pela solidão espiritual, do teu coração e pelo recolhimento assíduo, segundo as tuas forças; ou, então, a pobreza extrema de São Francisco, por certas práticas de pobreza que ainda hei de falar. Entre as vidas dos santos e santas há algumas que espalham luz em nossa mente para a direção de nossa vida, como a da bem-aventurada Madre Teresa, o que torna a sua leitura admirável, as dos primeiros Jesuítas, a do cardeal São Carlos Borromeu, de São Luís, de São Bernardo, as "Crônicas" de São Francisco e outros livros semelhantes. 

SÃO FRANCISCO DE SALES. Filoteia. Petrópolis: Vozes. 2012

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

Exortação à procura da felicidade em Deus

Se te agradam os corpos, louva a Deus por eles e dirige o teu amor a quem os criou, para não lhe desagradares ao encontrar prazer em tais criaturas. Se te agradam as almas, ama a elas em Deus, pois são também mutáveis e somente nele tornam-se estáveis; de outro modo, passariam e pereceriam. Portanto, é em Deus que deves amá-las; leva-as contigo até ele, dizendo-lhes: "Amemos, amemos a Deus!" Foi ele o criador dessas realidades, e delas não está longe, pois não as abandonou depois de criá-las. Dele elas vêm e nele existem. Ele está onde se saboreia a verdade. Ele está no íntimo do nosso coração; mas o coração se afastou dele. 
"Voltai aos vossos corações, pecadores", e ligai-vos àqueles que vos criou. Firmai-vos nele e sereis estáveis. Repousai nele e tereis a paz. Por que ir à procura de sofrimento? Aonde quereis ir? O bem que amais procede dele, mas só é bom e suave quando para ele é dirigido. Torna-se justamente amargo, porque, se abandonamos a Deus, torna-se injusto amar aquilo que dele deriva. Por que percorrer ainda esses caminhos ásperos e difíceis? A paz não está onde a procurais. Procurai o que procurais, mas não está onde a procurais. Procurais a vida na região da morte. Como poderá haver vida feliz onde nem sequer existe vida? 

SANTO AGOSTINHO. Confissões. São Paulo: Paulus. 2014

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

O Credo do Povo de Deus

Cremos que a Missa, celebrada pelo Sacerdote, que representa a pessoa de Cristo, em virtude do poder recebido no sacramento da Ordem, e oferecida por ele em nome de Cristo e dos membros do seu Corpo Místico, é realmente o sacrifício do Calvário, que se torna sacramentalmente presente em nossos altares. Cremos que, como o pão e o vinho consagrados pelo Senhor, na última ceia, se converteram no seu corpo e sangue, que logo iam ser oferecidos por nós na cruz, assim também o pão e o vinho consagrados pelo sacerdote se convertem no corpo e sangue de Cristo que assiste gloriosamente no céu. Cremos ainda que a misteriosa presença do Senhor, debaixo daquelas espécies que continuam aparecendo aos nossos sentidos do mesmo modo que antes, é uma presença verdadeira, real e substancial. 

Paulo VI, Papa. O Credo do Povo de Deus. A profissão de fé de Paulo VI. São Paulo: Paulinas. 2014

terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

Uma missão para Catarina (18 de julho de 1830)

Na noite de 18 de julho era justamente Madre Marthe quem dava instruções ao noviciado. Era a véspera  da festa de São Vicente. Ela evocava calorosamente a piedade do fundador pela Virgem Maria, e Catarina embebia-se de suas palavras. Catarina tinha visto São Vicente, tinha visto Nosso Senhor... Não tinha visto a Virgem Santa. E ei-la transportada por um novo elã: "Eu me deitei com a ideia de que nessa mesma noite eu veria minha boa Mãe. Havia muito que desejava vê-la!"
E foi o que aconteceu.
Finalmente, às onze e meia da noite, ouvi um chamado: 
- Irmã, irmã!
Despertei e olhei para o lado de onde vinha a voz, do lado do corredor. Abri a cortina. Vi então uma criança vestida de branco, de uns 4 ou 5 anos de idade, que me dizia:
- Levanta-te depressa e vá à capela, a Virgem Santa a espera!
De imediato, veio-me à mente:
- Mas ela vai me esperar?
A criança me respondeu (mentalmente):
- Fique tranquila, são onze e meia, todos estão dormindo. 
Venha, estou esperando. 
[...]
A criança me conduziu para dentro do Santuário, ao lado da poltrona do Senhor Diretor. Lá me pus de joelhos, e a criança permaneceu em pé o tempo todo. Como julgasse haver demora, olhei para verificar se as vigilantes não passavam pela tribuna. Por fim, chegava a hora, preveniu-me a criança, dizendo:
- Eis a Virgem Santa! Ei-la;

LAURENTIN, René. Catarina Labouré. Mensageira de Nossa Senhora das Graças e da Medalha Milagrosa. São Paulo: Paulinas. 2009. 

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

Recriar a vida: oitavo dia da criação?

O crescente conhecimento científico e poder de intervenção sobre a vida humana que a humanidade conquistou nos últimos anos, especificamente na área da biologia e genética, com possibilidade real de re-criação da vida, assusta muita gente. Manchetes na mídia alardeiam, com frequência, a expressão os "cientistas não deveriam brincar de Deus". Temos uma questão teológica implícita nessa frase. 
Na maioria das vezes, a expressão "brincar de Deus" destina-se a proibir certas formas de pesquisa científica e terapia médica, significando que o ser humano não tem o direito de alterar os planos estruturais dos organismos vivos, inclusive do seu próprio, pois isso se constituiria em uma usurpação do privilégio de Deus criador. A todo e qualquer avanço científico, levanta-se a placa: "Não brincarás de Deus". Diante dos extraordinários progressos da biotecnologia, a expressão bíblica de que o ser humano foi criado à "imagem e semelhança de Deus" está sendo substituída por outra: "Autocriado à sua própria imagem e semelhança". Quando do anúncio da clonagem de Dolly em 1997, perguntou-se se tal fato seria um "milagre pelo qual deveríamos agradecer a Deus ou se se constituiria numa nova e abominável forma de tomarmos o lugar de Deus". 
O conceito de criação inclui a noção da imago Dei, como afirmam teólogos contemporâneos, o ser humano é "co-criador criado" de Deus. Claro que aqui temos uma tensão. De um lado, a vocação bíblica do ser humano, que leva adiante a obra do Criador, e de outro temos a tendência prometéica de este ser querer tornar-se Deus. A expressão "co-criador criado" implica ver que a criação ou a natureza não são estáticas, mas estão num processo de evolução da creatio contínua de Deus. O ser humano continua a criação, desvendando os segredos e mistérios da criação, aperfeiçoando-a. 

PESSINI, Léo, Bioética. Um grito por dignidade de viver. São Paulo: Paulinas. 2009


domingo, 19 de fevereiro de 2017

A importância da experiência salvífica

Portanto, dado central de nossa fé é o fato de que Deus interveio em nossa história por seu Filho Jesus Cristo, constituindo esta iniciativa absolutamente livre de Deus uma interpelação para nós. Acolhendo-a, deixando que polarize, hierarquize e estruture todas as dimensões de nossa pessoa, respondemos ao gesto gratuito de Deus, assumimos o sentido último de nossa existência, dispomos de uma referência para nosso agir, concebemos nossa história como um projeto a ser realizado, em suma, vivemos como cristãos. 
Esse acolhimento nos atinge profundamente porque afeta o âmbito mais central de nossa pessoa, como seres dotados de razão e liberdade, que não se satisfazem em vegetar ao longo da vida, apenas distraídos e entretidos por problemas cotidianos e por preocupações superficiais. Atingido-nos profundamente, esse envolvimento com o convite divino torna-se uma experiência totalizante, que ilumina e estrutura a multiplicidade de experiências que constituem nossa história pessoal. 
Naturalmente nessa experiência, feita igualmente pelos primeiros cristãos, encontra-se implicada toda a riqueza da fé cristã: a pessoa de Jesus Cristo, a imagem de Deus que nos revelou, sua concepção do ser humano, da sociedade e da história, suas referências éticas, sua visão do além, sua resposta ao angustiado anseio de homens e mulheres por felicidade e imortalidade. Nada mais natural que, no curso dos anos, a reflexão cristã fosse explicitando esse conjunto de elementos da fé cristã, tratando-os separadamente, a exemplo do espectro solar refletindo os componentes de um raio de luz. Desse modo, ganhou um tratamento particular na história da teologia cristã a compreensão da salvação oferecida por Deus em Jesus Cristo, construindo a atual doutrina da salvação ou soteriologia. 

MIRANDA. Mario de França*. A Salvação de Jesus Cristo. A doutrina da graça. São Paulo: Loyola. 2011. 

Padre França recebeu o Prêmio Ratzinger de Teologia, instituído em 2011, em cerimônia realizada no Vaticano, na conclusão do Simpósio “Deus caritas est. Porta da Misericórdia”, que marcou as comemorações dos 10 anos da publicação da primeira encíclica de Bento XVI, Deus caritas est.
Esse prêmio é atribuído, anualmente, a dois estudiosos que se distinguiram na pesquisa científica de caráter teológico, que difundem o pensamento da Igreja e conhecem o pensamento do teólogo José Ratzinger.

sábado, 18 de fevereiro de 2017

O direito na história da Igreja

As instituições fundamentais na Igreja não são aquelas inscritas na natureza humana, nem muito menos as determinadas pelo arbítrio do homem, mas as determinadas pela vontade de seu Fundador no plano da redenção. Diferentemente do que ocorre na sociedade civil, a estrutura e as instituições fundamentais da Igreja não são fruto de um compromisso constitucional entre os homens, mas dependem da realidade dogmática da Igreja, de sua própria natureza, que é estritamente vinculante para todos os lugares e todos os tempos. 
O direito divino, como toda a Revelação, está contido nos livros inspirados das Sagradas Escrituras e transmitido mediante a Tradição viva da Igreja, que, em sua profunda unidade, constituem a fonte primordial do ordenamento eclesial. A índole jurídica dos textos das Sagradas Escrituras e daqueles que refletem a Tradição (pregação, teologia, liturgia, etc) não aparece apenas quando estes textos se apresentam como formalmente jurídicos - como ocorre, por exemplo, com as disposições conciliares -, mas também quando o texto indica um comportamento considerado justo ou injusto na comunidade cristã. 

GOMES, Demétrio. Justiça & Misericórdia. A Igreja realmente precisa de um Direito Canônico? São Paulo: Ecclesiae. 2016

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

O nome próprio do Espírito Santo

São inúmeros os trechos do Novo Testamento em que o Espírito Santo é apresentado, direta ou indiretamente, como o dom de Deus. "Se tu conhecesses o dom de Deus...", diz Jesus à Samaritana (Jo 4,10); o contexto, que fala da água vida, sempre levou a pensar que se está a aludir ao Espírito Santo (cf. Jo 7,38s). Seja como for, o certo é que, nos Atos dos Apóstolos, o Espírito Santo é definido como "Dom de Deus": "Arrependei-vos[...]. Depois recebereis o dom do Espírito Santo. 
O genitivo "do" Espírito Santo significa não é senão o próprio Espírito Santo. Outras vezes, porém, o sujeito e o objeto do dom são distintos, e o Espírito Santo surge como o dom que o Pai ou Cristo concedem aos fiéis: "Por isto se conhece que permanecemos nele e ele em nós: ele concedeu-nos o dom do seu Espírito" (1 Jo 4,13). 
O próprio Espírito é denominado também "o dom celestial" (Hb 6,4), ou simplesmente, "o dom" que Deus concedeu aos apóstolos no Pentecostes (cf. At 11,17). 
O primeiro a valorizar este título bíblico do Espírito Santo foi Santo Irineu: "À Igreja foi confiado o dom de Deus, como outrora o sopro à criatura formada (Gn 2,7), para que todos os membros, dele partícipes, sejam vivificados". 

CANTALAMESSA, Raniero. Vem, Espírito Criador! Meditações sobre o Veni creator. São Paulo: Canção Nova. 2014.  

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

O estudo da Religião

O estudo da religião é o mais necessário de todos. Os outros são de proveito para a vida no tempo. E a religião é necessária para o tempo e a eternidade. 
Nada pode haver de mais importante do que assegurar a salvação da própria alma. O meio de atingir esse objetivo supremo é crer que Deus ensinou e fazer o que Deus mandou. 
Sendo Deus a Suprema Verdade e o Sumo Bem, Ele só nos ensina o que é verdadeiro e só nos prescreve o que é bom. Não se trata, assim, de qualquer manifestação de arbítrio do Criador sobre as criaturas, mas de uma estupenda manifestação de Amor. Ensinando a Verdade e o Bem, Deus ilumina nossos caminhos e previne para que nos desviemos das sendas do erro. 
Ficamos sabendo o que devemos crer e o que devemos fazer pelo estudo da religião. 
Não se deve, pois, pensar que a religião é uma espécie de compartimento estanque na vida. Ou alguma coisa para usar de vez em quando - por exemplo, quando se vai à Missa - e depois guardar na gaveta. 
A este respeito é bom lembrar uma parábola do Evangelho: "O reino dos céus é semelhante ao fermento que uma mulher toma e mistura em três medidas de farinha até que fique fermentada toda a massa" (Mt 13,33). 
Assim, a religião deve orientar toda a nossa vida, todos os nossos atos. A religião é vida. Não apenas um conjunto de preceitos proibitivos com vistas a não pecar, mas uma diretriz positiva para o bem, para a prática das virtudes, dando sentido à existência humana, que sem ela se torna incompreensível. 
Mais ainda. É a nossa vida em Deus e a vida de Deus em nós, habitando em nossas almas pela graça santificante. 

SOUZA, José Pedro Galvão de. Para conhecer e viver as verdades da fé. Belo Horizonte: Edições Cristo Rei. 2013. 

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

Os sete Sacramentos

A Igreja não oferece aos fiéis apenas a Palavra Sagrada, mas põe-lhes à disposição também os meios sobrenaturais que permitem participar de Deus: os sacramentos. 
O sentido da palavra "sacramento" é definido no século XII. Até então, confundia-se o que entendemos por esse termo com ritos eclesiásticos cuja instituição nada tinha de divino, como a recepção da água benta ou das cinzas, que Hugo de São Vitor ainda qualificava como "sacramento". Foi discutindo com os hereges que os teólogos se viram obrigados a precisar mais o pensamento cristão. Fixou-se em sete o número desses auxílios divinos, conforme se lê pela primeira vez na Vida de Otão de Bamberg (1139), e foi sobretudo Pedro Lombardo quem estabeleceu a doutrina correspondente, a mesma que o Concílio de Trento sancionaria no século XVI e que é a da Igreja dos nossos dias. 
Quando a criança nasce, conferem-lhe o Batismo; nesta época, o batismo na idade adulta tornou-se já uma exceção. A Igreja insiste agora na necessidade de batizar o recém-nascido o mais depressa possível, dentro de quarenta dias no máximo, como se costuma fazer na Itália. Já não é preciso esperar pelos tempos canônicos - a Páscoa da Ressurreição, principalmente - em que era tradicional celebrar os batismos. 
Como se administra o sacramento? Entre os gregos, subsiste o antigo costume da tríplice imersão. Entre os latinos, a Igreja autoriza também a tríplice infusão de água, mas o costume da imersão, mais complicado e que em alguns casos pode ser prejudicial à saúde ou à decência, acaba por subsistir apenas em Milão e em algumas dioceses alemãs. Por isso, os batistérios tendem  a ser substituídos pelas pias batismais. A cerimônia do batismo é acompanhada pelas mesmas orações, simples e admiráveis, que ainda hoje abrem as portas da Igreja ao recém-nascido. 

ROPS-DANIEL. A Igreja das Catedrais e das Cruzadas. São Paulo: Quadrante. 2012

terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

O ensino na Idade Média

Outra marca registrada na Idade Média, e que foi a base da Civilização Ocidental, foi o ensino. É grave calúnia dizer que a Igreja tinha o interesse em manter o povo na ignorância para dominá-los; os fatos mostram o contrário; e contra fatos não há argumentos. 
No século VI, São Cesário de Arles já expunha no Concílio de Vaison (529) a necessidade imperiosa de criar escolas no campo; e os bispos se dedicaram a isto. Da mesma forma foi a Igreja quem montou para Carlos Magno (814), a sua política escolar; e retomou a tarefa educadora no século X após o fim do seu Império. O III Concílio de Latrão (1179), em Roma, presidido pelo Papa Alexandre III (1159-1181), ordenou ao clero que abrisse escolas por toda a parte para as crianças, gratuitamente. Obrigou a todas as dioceses terem ao menos uma. Essas escolas foram as sementes das Universidades que logo surgiram: Sorbonne (Paris), Bolonha (Itália), Canterbury (Inglaterra), Toledo e Salamanca (Espanha), Salerno e Raviera na Itália; Coimbra em Portugal, La Sapienza (Roma). 
Os níveis escolares eram três: primário, secundário e superior. Na base, estavam as escolas paroquiais, "as pequenas escolas". 
No plano superior havia as escolas monásticas e as escolas das catedrais e capitulares, correspondente ao ensino secundário. No século XII havia só na França 70 abadias com escolas. Todos os grandes bispos também quiseram ter escolas; na França, no século XII havia mais de 50 escolas episcopais. Dos sete aos vinte anos as crianças e os jovens eram recebidos nessas escolas sem distinção de classes. Havia escolas só para meninas e moças. As disciplinas dividiam-se em "trivium" (gramática, dialética e retórica) e "quadrivium" (aritmética, geometria, astronomia e música). Mas um grande pedagogo da época Thierry de Chartres, mostrou que o "trivium e o quadrivium" eram apenas um meio e que o fim era "formas almas na verdade e na sabedoria". O importante era o conjunto do saber humano, hoje tão desprezado. 
Em muitas escolas os alunos tinham ensino técnico de como trabalhar com o ouro, prata e cobre. Aos poucos surgiam as especializações: Chartres (letras), Paris (teologia), Bolonha (direito), Salerno  e Montpellier (medicina). 

AQUINO, Felipe. Uma história que não é contada. São Paulo: Cléofas. 2015

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

A matriz essencial do pensamento Nova Era

A matriz essencial do pensamento Nova Era deve ser procurada na tradição esotérica-teosófica amplamente aceita pelos círculos intelectuais europeus nos séculos XVIII e XIX. Esteve particularmente  presente na maçonaria, no espiritismo, no ocultismo e na teosofia, que tem em comum um certo tipo de cultura esotérica. Nesta visão do mundo, os universos visíveis e invisíveis são ligados por uma série de correspondências, analogias e influências entre o microcosmo e o macrocosmo, entre metais e plantas, entre planetas e diferentes partes do corpo humano, entre cosmo visível e reinos invisíveis da realidade. A natureza é um ser vivo, atravessado por fluxos de simpatia e antipatia, animado por uma luz e por um fogo secreto que os seres humanos procuram controlar. As pessoas podem entrar em contato com os mundos superiores e inferiores, mediante a imaginação (um órgão da alma e do espírito) ou, então, utilizando mediadores (anjos, espíritos, diabos) ou rituais. 
As pessoas podem ser iniciadas nos mistérios do cosmo, de Deus e de si próprias, através de um percurso espiritual de transformação. A verdadeira meta é a gnose, a forma mais elevada de consciência, equivalente da salvação. Implica uma busca das tradições mais antigas e mais elevadas da filosofia (o que, de maneira imprópria se denomina philosofia perennis) e da religião (teologia primordial) e uma doutrina secreta (esotérica) que é a chave de todas as tradições esotéricas acessíveis a qualquer pessoa. Os ensinamentos esotéricos são transmitidos de mestre a discípulo num programa gradual de iniciação. 

DOCUMENTO DO VATICANO - A NOVA ERA, JESUS CRISTO, PORTADOR DA ÁGUA VIVA. São Paulo: Cléofas. 2008

domingo, 12 de fevereiro de 2017

Relacionamentos falsos e amizades interesseiras

Às vezes fico atemorizado em lidar com as pessoas dissimuladas que vivem ao nosso lado. Não as julgo nem as condeno, só me preocupo com minha personalidade, porque, de tanto conviver com hipocrisias, posso também eu me tornar um dissimulado sem perceber. Eu não preciso fingir que gosto de ninguém. Do mesmo modo, não preciso nem quero que ninguém faça força para gostar de mim, pois ninguém é obrigado a gostar de ninguém. Gosto cada um tem o seu. Amar, sim. Amo até pessoas de quem não gosto, com a força do amor-caridade. Mas nada de coisas piegas: sorrisos falsos, abraços sem intensidade e palavras vazias para fazer média. O amor que tenho para dar é um amor respeitoso e desejoso de que o outro cresça, siga em frente e seja feliz. 
Não viva nada de maneira dissimulada na sua vida. Em se tratando de relacionamentos, no entanto, faça um esforço para ser educado, gentil e amável com todos. Cumprimentar algumas pessoas e não outras é reflexo de infantilidade e afetos mal curados, portanto, tenha um sorriso e um afago para distribuir para todos de forma gratuita e generosa. E reserve os gestos mais profundos e os afetos mais calorosos para as pessoas com quem você tem mais intimidade e afinidade. 
Tudo que ressoa falso é amargo e indigesto. Tudo que ressoa autêntico é formidável e digno de aplausos. Não negue amor a ninguém, mas que ele seja sempre a expressão da autenticidade do seu coração. 

ARAÚJO, Roger. Repensando a vida. Reflexões simples como simples deve ser a vida. São Paulo: Canção Nova. 2014



sábado, 11 de fevereiro de 2017

O amor e a importância da família

O amor e a paciência da família são indispensáveis para a recuperação de um alcoólatra; eles são fundamentais. 
Uma pessoa que, na dor, aprendeu tudo o que sabe é bem diferente daquela que aprendeu com amor, na paz e na bênção de Deus. A primeira é uma pessoa sensível, que se sente diminuída, que exige toda a atenção da família e das pessoas. Eu mesma sou uma pessoa que se magoa profundamente com qualquer olhar meio atravessado; sou como criança, mas, também, passados cinco minutos, não me lembro de mais nada. 
Quando bebia, todas as vezes que chegava em casa, minha mãe estava me esperando, com um terço na mão. Aquilo me envergonhava. Se tivesse força para parar, pararia. Não daria este desgosto a ela. Mas como parar? 
Às vezes eu saía num dia e só voltava no outro, e lá estava ela rezando. Minha irmã Lurdinha mora em Jerusalém, então, à noite, quando eu estava saindo, ela já estava se levantando, indo ao Santo Sepulcro rezar por mim e pelos meus irmãos. Hoje, ela diz que a coisa de que tinha mais medo era receber, a qualquer hora, uma notícia ruim relacionada a um de nós três, os irmãos que bebiam. 
Só uma coisa me segurava dentro de casa: o amor. Quando eu estava na rua e retornava a minha casa para tomar banho, já planejando voltar para o bar, eu já ia pensando em brigar com o primeiro que aparecesse, como se eles fossem os culpados por não me darem paz. Então, eu só voltaria no dia seguinte. 

NUNES, Joziane. Sede Sóbrios. O testemunho que quem vence o alcoolismo. São Paulo: Canção Nova. 2015. 


sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017

O novo nome que Jesus usa para Deus

O nome pelo qual Jesus chamava Deus era ainda mais espantoso que aquele que Deus revelou a Moisés. Os judeus aprenderam com Moisés que Deus é apenas Eu Sou, a pessoa eterna, perfeita, única e totalmente real. E Jesus chamava essa pessoa por um nome que ninguém sonharia ou ousaria usar: "Pai". 
Esse fato representava dois choques: Deus era Pai de Jesus, por natureza, na eternidade; e nosso Pai, por adoção, no tempo. 
No mundo antigo, "filho adotivo" era o título legal genérico para mulheres e homens adotados; uma vez que o direito de herança era passado por meio dos homens, "filho" era a palavra necessária para designar o fato de que mulheres e homens tinham direito à plena herança espiritual de todas as riquezas de Deus concedidas por intermédio de Cristo. O ponto realmente "inclusivo" só poderia ser expresso por meio de uma palavra aparentemente "exclusiva". 
E Jesus ainda foi mais adiante. Ele usava a palavra "Abba" - não apenas "Pai", mas "Papai", o termo íntimo usado pela criança ou pelo bebê. (Até mesmo um bebê consegue balbuciar: "Abba", ou "Papa"). Aquele que é infinitamente transcendente, agora, também será, por todo o resto do tempo e da eternidade, infinitamente íntimo. Agora, o Pai está brincando com o bebê e usando a fala dos bebês. O divino inacessível tornou-se tão acessível que pôde ser morto. Ele não só tornou seu espírito acessível, mas também seu sangue. Suas palavras de salvação não eram como as dos filósofos: "Esta é minha mente", mas: "Isto é o meu corpo" (Mateus 26,26). 

KREEFT, Peter. Jesus, o maior filósofo que já existiu. As respostas de Cristo às perguntas mais importantes de nossas vidas. Rio de Janeiro: Petra. 2016



quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

Os gestos e atitudes corporais

42. Os gestos e atitudes corporais, tanto do sacerdote, do diácono e dos ministros, como do povo, visam conseguir que toda a celebração brilhe pela beleza e nobre simplicidade, que se compreenda a significação verdadeira e plena das suas diversas partes e que se facilite a participação de todos. Para isso deve atender-se ao que está definido pelas leis litúrgicas e pela tradição do Rito Romano, e ao que concorre para o bem comum espiritual do povo de Deus, mais do que à inclinação e arbítrio de cada um. A atitude comum do corpo, que todos os participantes na celebração devem observar, é sinal de unidade dos membros da comunidade cristã reunidos para a sagrada Liturgia: exprime e favorece os sentimentos e a atitude interior dos presentes

43. Os fiéis estão de pé: desde o início do cântico de entrada, ou enquanto o sacerdote se encaminha para o altar, até à oração colecta, inclusive; durante o cântico do Aleluia que precede o Evangelho; durante a proclamação do Evangelho; durante a profissão de fé e a oração universal; e desde o invitatório “Orai, irmãos”, antes da oração sobre as oblatas, até ao fim da Missa, exceto nos momentos adiante indicados. 

Estão sentados: durante as leituras que precedem o Evangelho e durante o salmo responsorial; durante a homilia e durante a preparação dos dons ao ofertório; e, se for oportuno, durante o silêncio sagrado depois da Comunhão.

Estão de joelhos durante a consagração, exceto se razões de saúde, a estreiteza do lugar, o grande número dos presentes ou outros motivos razoáveis a isso obstarem. Aqueles, porém, que não estão de joelhos durante a consagração, fazem uma inclinação profunda enquanto o sacerdote genuflecte após a consagração.

Compete, todavia, às Conferências Episcopais, segundo as normas do direito, adaptar à mentalidade e tradições razoáveis dos povos os gestos e atitudes indicados no Ordinário da Missa. Atenda-se, porém, a que estejam de acordo com o sentido e o carácter de cada uma das partes da celebração. Onde for costume que o povo permaneça de joelhos desde o fim da aclamação do Sanctus até ao fim da Oração eucarística, é bom que este se mantenha. Para se conseguir a uniformidade nos gestos e atitudes do corpo na celebração, os fiéis devem obedecer às indicações que, no decurso da mesma, lhes forem dadas pelo diácono, por um ministro leigo ou pelo sacerdote, de acordo com o que está estabelecido nos livros litúrgicos. 

44. Entre os gestos contam-se também: as ações e as procissões do sacerdote ao dirigir-se para o altar com o diácono e os ministros; do diácono, antes da proclamação do Evangelho, ao levar o Evangeliário ou Livro dos Evangelhos para o ambão; dos fiéis ao levarem os dons e ao aproximarem-se para a Comunhão. Convém que estas ações e procissões se realizem com decoro, enquanto se executam os cânticos respectivos, segundo as normas estabelecidas para cada caso.

Instrução Geral sobre o Missal Romano. Petrópolis: Vozes. 2014

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

Desde quando a Igreja passou a usar o nome Católica?

O adjetivo católica é anterior ao nascimento da Igreja. Em grego, katholikos quer dizer aquilo que é conforme o todo. Hoje em dia, a palavra equivalente seria holística. De uma forma geral, a tradução para a palavra católica é universal, contudo, o sentido dela é muito mais amplo. 
O primeiro documento histórico que contém o adjetivo católica referindo-se à Igreja é uma carta de Santo Inácio de Antioquia à Igreja de Esmirna, escrita após a sua prisão, que o levou ao martírio em Roma:

Segui o Bispo, vós todos, como Jesus Cristo ao Pai. Segui ao presbítero como aos Apóstolos. Respeita os diáconos como ao preceito de Deus. Ninguém ouse fazer sem o Bispo coisa alguma concernente à Igreja. Como válida só tenha a Eucaristia celebrada sob a presidência do bispo ou de um delegado seu. A comunidade se reúne onde estiver o Bispo e onde está Jesus Cristo está a Igreja Católica. Sem a união do Bispo não é lícito Batizar nem celebrar a Eucaristia; só o que tiver a sua aprovação será do agrado de Deus e assim será firme e seguro o que fizeres. 

Onde está Jesus Cristo está a Igreja Católica, segundo Santo Inácio. Mas, essa palavra era usada também em outro sentido, por exemplo, São Justino quando escreveu o Diálogo a Trifão, usou a mesma palavra para referir-se à ressurreição geral, de todas as pessoas. O termo se aplicava também à universalidade do número das pessoas, numa imagem da Igreja que acolhe a todos em seu seio. 
A partir do século IV, com o surgimento de várias heresias, um outro sentido foi dado à palavra católica. São Cirilo de Jerusalém para comparar a fé ortodoxa com a fé herética, usa o termo fé católica. Ou seja, a verdadeira fé aceita a totalidade das verdades reveladas, enquanto a fé herética escolhe aquilo em que quer acreditar, selecionando o que mais lhe convém e rejeitando os demais conteúdos da fé. 

RICARDO, Paulo. A resposta Católica. Um pequeno manual para grandes questões. Volume 1. São Paulo: Cléofas. 2013

terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

Escritores africanos de língua latina

As primeiras versões latinas da Bíblia surgiram na África do norte e muito provavelmente em Roma, que mantinham relações culturais estreitas. Embora não tenhamos o texto original, este foi reconstruído graças às inúmeras citações dos escritores africanos do terceiro século. Os primeiros autores a utilizarem o latim foram, na África, Tertuliano e, em Roma, Minúcio Felix e, pouco após, Novaciano. Mas a língua que prevalecia em Roma, nos ambientes culturais, era língua grega. O próprio Tertuliano escreveu cinco de suas obras em grego, traduzidas por ele mesmo para o latim. 
As primeiras notícias que temos da presença da Igreja na África remontam a última metade do século segundo, com as Atas dos mártires scilitianos, que provinham provavelmente de uma população local, da cidade de Scillium. A chegada dos cristãos deu-se alguns decênios antes do ano 180. No tempo de Tertuliano, a Igreja já está bem organizada, a ponto de ele dizer, com certo exagero retórico, que se os cristãos abandonassem as cidades, estas se tornariam vazias. 
Tertuliano não é considerado, no sentido estrito da palavra, "Padre da Igreja", mas escritor eclesiástico de grande importância. Pessoalmente, possui ampla erudição no campo literário, filosófico e jurídico. Nascido em Catargo, ele era capaz de escrever em grego e latim, chegando a verter para o grego algumas de suas obras, originalmente escritas em latim. Filho de um centurião romano, em sua idade madura, abraçou o Cristianismo, com a fogosidade do seu temperamento africano. 

FIGUEIREDO, Fernando A. O alvorecer da Igreja na África. São Paulo: Cléofas. 2016